sexta-feira, 11 de julho de 2014

SR. NÉU




O manequim de fita ao pescoço espreita pela janela anunciando, de forma orgulhosa, a alfaiataria de Manuel Armada Barbosa, mais conhecido por Néu. A sala de entrada transpira anos de estudo, em livros gastos de tantas vezes folheados: técnicas de corte, traçados para a mais variada indumentária, tudo com uma lógica matemática, transformando-se quase numa ciência exacta! Nesta casa faz-se tudo à medida e nenhum pormenor pode ser deixado ao acaso. Com 60 anos de idade, há muito que as agulhas, a tesoura, o ferro e o giz fazem parte da vida do Sr. Néu que prontamente nos elucida que não se considera um profissional de alfaiataria mas antes um artista de alfaiataria. Aqui faz-se de tudo um pouco e não apenas umas calças e um fato, “nem que seja umas cuecas”, afirma!







A naturalidade com que fala connosco enquanto manuseia os tecidos com uma destreza incrível, em movimentos bem definidos e suaves, realça os anos de experiência deste alfaiate de quarta geração que, com apenas 10 anos, vinha da escola para aprender o ofício com o avô, a quem seguiu as pegadas. Mais tarde estudou na Academia de Corte Maguidal, na Rua da Palma em Lisboa, onde aprofundou a arte e aprendeu as mais recentes técnicas de corte. O entusiasmo com que nos recebe e as histórias que nos conta envolvem-nos num universo com muito mais para descobrir do que aparentaria à primeira vista. À semelhança das suas mãos, também as suas histórias fluem freneticamente umas atrás das outras. Explica-nos com orgulho que naquele mesmo lugar nasceram os congressos nacionais de alfaiataria, apesar das dificuldades muitas vezes sentidas em reunir os alfaiates do país.





































A sua casa emana um orgulho sentido e um respeito inegável pela arte. Não se trata apenas de um tecido mas antes de um símbolo, de um protocolo, de uma ética. “Já me recusei a fazer um fato! (…) Pagava-me o fato mas não a má propaganda!” acrescentando, logo de seguida, “e já mandei ir buscar um fato a casa”, (para que pudesse ser corrigido): “o cliente estava satisfeito mas eu não!”. No final diz-nos, com uma sinceridade espelhada nos olhos, “Gosto de vir à janela, logo de manhã, de fita ao pescoço. Que feliz eu sou em ser alfaiate!”.



Alfaiataria Moderna - Largo da Misericórdia - Ponte da Barca


P. Ponte - Texto
Sónia Silva - Fotos



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