Contam-se pelos dedos de uma mão os mestres com porta aberta na cidade.
"O Governo tem de aproveitar os artistas ainda no activo para incutir nos jovens o gosto por esta actividade. Uma tarefa que terá de passar pela atribuição de incentivos financeiros que viabilizem a planificação de acções de formação", sugere Avelino Ferreira, um dos alfaiates da cidade, que promete resistir enquanto as forças não o abandonarem.
Natural de Vale de Cambra, no distrito de Aveiro, Avelino Ferreira, 63 anos, passou quase toda a sua vida entre Portugal e Luanda (Angola), a confeccionar fatos por medida. Alturas houve, em anos recuados, em que chegou a produzir dez por mês. "Agora se fizer 20 por ano já é uma boa média", diz com tristeza.
300 euros por fato
Apesar da crise que afecta o sector, Avelino Ferreira consegue ver uma luz ao "fundo do túnel": "Tenho um filho, licenciado em Gestão de Empresas, que decidiu pôr o canudo de lado e abraçar esta belíssima profissão. Está em Londres a fazer formação", partilha com visível orgulho.
A exemplo de outros colegas, Avelino Ferreira acredita que os alfaiates ainda têm futuro. "Os fatos feitos por medida terão sempre mercado" garante o empresário, que elenca três segmentos de clientes fiéis: as pessoas que exigem qualidade no talho, na confecção, nos tecidos e acessórios; os que têm dificuldade em encontrar no pronto a vestir fatos que lhes fique bem e os portadores de deficiência.
Um fato feito por medida podia custar, há algumas décadas, 300 escudos. " Hoje aquele dinheiro daria para comprar um botão. Um fato razoável não custa menos de 300 euros. E se o tecido for de muita qualidade pode ir aos mil euros e mais", declara Avelino Ferreira.
Centena e meia no país
Avelino Ferreira calcula que o número de
alfaiates no activo não ultrapasse, actualmente,
a centena e meia em todo o país.
Cerca de metade estarão hoje em Viseu,
com as respectivas famílias, para participar no
XVIII Encontro dos Mestres Alfaiates.
Um momento de convívio, entre artesões
do mesmo ofício, e de troca de experiências sobre
os avanços no sector.
Um momento cultural no Museu de Grão Vasco,
servirá de "aperitivo", para o almoço regional,
num restaurante da periferia. "Somos poucos.
Temos de estar unidos.Estes encontros ultrapassam,
de longe, o mero convívio.Recordamos os
primeiros tempos da nossa profissão,
as primeiras máquinas que compramos,
os clientes famosos que não prescindiam
- e muitos continuam a não prescindir-
do nosso trabalho.
Um fato feito à medida é garantia de bem vestir.
Acredito que os bons velhos tempos
acabarão por regresssar", vaticina Avelino Ferreira.
in JN
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