segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

ALFAIATES, ALFAIATARIAS E CAMISARIAS DA BAIXA E DO CHIADO - II




Brito Alfaiate - Francisco Sabino Brito
R. D. Antão de Almada 3, 3º e Praça D. Pedro IV 93, 3º
Tel. 21 346 30 17
O actual proprietário entrou como aprendiz por volta de 1960, tendo em 14/4/1974 adquirido o estabelecimento ao seu anterior proprietário, o Sr. Manuel Pina. A oficina, cuja janela tem vista para o Rossio fez com que no dia 25/4/1974 fosse disputada por jornalistas e curiosos para a obtenção de imagens. “Desta janela já foram filmadas várias películas cinematográficas”.



Ernesto Martins, Lda.
R. da Conceição 107, 1º
Tel. 21 346 32 61
Fundado em 1940 por Ernesto Martins, a partir de 1993 passou para José Augusto, seu actual dono. Com mobiliário de madeira, instrumentos que memorizam a história desta profissão, aqui fazem-se unicamente fatos de homem, fraques, smokings, fatos de montar, utilizando fazendas inglesas e italianas. Actualmente, trabalham neste espaço quatro pessoas, mas no passado, “chegaram a ser trinta”.


Fritz   Camiseiros, Lda.
R. da Assunção 42, 4º - Sala 25
Tel. 21 346 34 42
Fundado pelo Sr. Fritz, por volta dos anos 1960 transferiu-se para as mãos do Sr. José Batista dos Santos, seu actual proprietário, mestre na arte de fazer camisas, obtido através de um curso na Academia Maguidal. Especializado em fazer à mão
camisas em algodão e popeline, de origem italiana, num elevado número de padrões, podendo levar um monograma pessoal.




Loureiro & Nogueira, Lda.
R. de Santa Justa 79, 1º
Tel. 21 342 44 65
Fundada em 1930 foi adquirida em 1992 pelos seus
actuais proprietários, o Sr. João Ribeiro e esposa, que se iniciou com11 anos, como aprendiz e ainda hoje acompanha as tendências da moda. Conta actualmente com dois trabalhadores mas chegaram a trabalhar 8 pessoas. È um espaço cuidado, bem ao estilo da actividade de alfaiataria - elegante, sóbria e correcta.


Luis Pestana Alfaiates
R. da Misericórdia 33, 1º
Tel. 21 045 30 11
Fundada em 1926, aqui desde 1991, o seu actual proprietário, o Sr. Luis Pestana está ligado a esta arte desde o berço, já que seu pai, alfaiate, foi dono da Pestana e Brito, com quem iniciou a aprendizagem, depois foi para Inglaterra onde tirou o curso de alfaiate. O estabelecimento é de grande requinte e sofisticação, mobiliário de madeira, soalho coberto por uma bela carpete avermelhada, candeeiros e espelhos dando brilho ao conjunto.


Alfaiataria Nunes Corrêa
R. Augusta, 250
Tel. 213 240 930
www.nunescorrea.com
Fundada em 1856 por Jacinto Nunes Correia, oriundo de família de algibebes. Continuou nos seus descendentes até 1957, altura em que passou para Mário Leão. Hoje é o seu neto que está à frente, seguindo uma modernização que vai do fabrico de sapatos, desde c.1950, até à loja virtual, sempre a vestir bem o homem - “estilo clássico, mas sempre com um apontamento da N. Corrêa”. Em 1919 migrou da rua de S. Julião para onde está hoje, mais tarde em 1974 foi alvo da remodelação que a caracteriza - loja bem decorada, forrada a painéis de madeira, ao estilo clássico, de fachada notável e na esquina uma placa comercial emoldurada por cantaria lavrada, que acaba por resgatar o tempo em que vestiam a Família Real.


Piccadilly Ldª - Alfaiates Mercadores
R. Garrett 69 - 71
Tel. 21 342 67 21
Abriu como Vitorino, Ferreira & Almeida Lª do outro lado da rua, no nº 58-60, pela mão de Benjamim Ferreira e continuou nos herdeiros até aos anos 1980-85, altura em que passou para a
propriedade do sr. Manuel Mendonça, alfaiate da casa, e depois para os seus herdeiros. Mudou para o actual local em 1919 e em 1924 tomou o nome de Piccadilly. É o exemplo da alfaiataria inglesa em Lisboa: decoração emblemática, cartazes, tecidos,
gravatas e corte - tudo à inglesa. Da remodelação dos anos 1960, o mobiliário é em madeira, a porta da rua em madeira clara. O painel em vidro espelhado, fundo preto, letras douradas mencionam “mercadores e alfaiates”. Hoje a equipe compõem-se de 1 mestre alfaiate, Joaquim Dias, há 30 anos na casa, 2 oficiais de alfaiate e 6 costureiras de alfaiate.


Pitta - Camisaria Pitta & Cia. Lda.
R. Augusta 195 - 197
Tel. 21 342 75 26
Fundada c.1887 na R. de S. Julião por A.M.Pitta, muda para o actual local em 1903. Foi fornecedor da Casa Real e hoje do PR.
Em 1977 recria uma alfaiataria britânica, elegante e de bomgosto.
A frontaria é trabalhada em madeira, com dois colarinhos esculpidos sobre as duas portas que dão passagem para a entrada, ladeada por duas montras bem iluminadas e atraentemente expostas.


 Le Tailleur Moderne
R. Augusta, 213 -215
Tel. 21 342 24 19
“João B. Carneiro, Lda” é o nome da firma, fundada em 1907, mas
desde 1975 até hoje os proprietários são Manuel Silva e esposa. O
estabelecimento ocupa dois pisos: a loja e no piso superior o armazém,
escritório e atelier. Fácil de identificar através de tabuletas, reclamos e
uma vistosa montra, no interior, predominam as madeiras de aspecto
clássico. É também com facilidade que se admiram expostas algumas
peças que, fazem parte da história deste ramo. Presentemente, trabalham neste estabelecimento cinco pessoas. Tem sucursal na Av. Guerra Junqueiro.


© CML/GEO
Dezembro 2010

Alfaiates, Alfaiatarias e Camisarias da Baixa e Chiado - I


Mestres de alfaiataria, portadores de um “saber-fazer” que lhes confere a capacidade de transformar tecido em fatos únicos e ajustados a cada cliente. Tendencialmente, são homens com um percurso profissional longo, a maioria começou a trabalhar aos 10/11 anos, pelo que facilmente se depreende que se dedicam ao mester há mais de meia centena de anos. Evidenciam destreza no pensamento e firmeza na mão, a mão que manuseia a tesoura, o giz ou a “chonga” (tábua própria para dar forma aos casacos). Falar com estes mestres é em certa medida viajar no tempo, talvez seja mais fácil de entender se olharmos para o alfaiate como uma profissão, ou “arte” conforme assumiram unanimemente, que tem atravessado séculos. Logo, impôs-se recuarmos ao tempo das Corporações dos Ofícios Mecânicos e à instituição política e profissional que representava as várias corporações de artífices, a “Casa dos Vinte e Quatro”. Este organismo, instituído pelo Mestre de Aviz, deve o nome aos vinte e quatro homens, dois de cada ofício, com assento na Câmara. E se os “ofícios” foram mudando ao longo dos séculos, adaptando-se e ajustando-se às necessidades de uma cidade que se foi transformando. A incorporação dos Alfaiates, enquanto ofício “à cabeça da corporação”, aconteceu já na primeira metade do século XVII, embora tenha sido na segunda metade do século seguinte (1767) que a “classe” tenha renovado o protagonismo, visto que foi eleito para presidente um alfaiate - Filipe Rodrigues de Campos. No entanto foi com a reforma de 1771 que esta corporação deu provas de flexibilidade, ao ter integrado os algibebes (vendedores de fatos feitos), calceteiros (faziam calças), carapuceiros e bainheiros (faziam bainhas), estes últimos já numa reforma posterior, como ofícios “anexos”. Corporação venturosa, acalentada por dois santos: São Julião, rua onde foram “acommodados” por ordem do Conde de Oeiras,  e Nossa Senhora das Candeias - padroeira do mester
Os actuais 5 alfaiates, 3 alfaiatarias e 2 camisarias existentes sobrevivem, mais do que ao encerramento de muitas alfaiatarias, sobretudo depois de 1974, a uma mudança de costumes que se expressa no pronto-a-vestir. Mas à medida que a conversa vai correndo percebe-se que estes profissionais acabam por atribuir algumas características de ritualidade ao gesto de mandar fazer um fato.
A classe apesar de assentir que a profissão está longe do fulgor do passado, conseguiu fidelizar gerações e com alguma regularidade vão a feiras da especialidade, donde trazem novos aportes por forma a implementar um novo vigor ao sector, correspondendo assim às novas exigências do século XXI. Hoje, o cliente tanto pode chegar da esquina mais próxima, como de além fronteiras, onde o aumento de clientes angolanos e de S. Tomé e Príncipe tem vindo a ganhar expressão, conforme referiram alguns. Mas estes profissionais de trato polido estão aptos a atender desde o político, o embaixador, o gestor, o banqueiro ou o juiz, sendo que por norma o cliente tipo é de uma faixa etária mais madura e de uma classe social média-alta a alta. Em menor escala alguns jovens, geralmente os filhos dessa geração. Aliás, estes profissionais declararam que a renovação geracional tem vindo a ser benéfica e a constituir-se como um desafio, uma vez que estes clientes, igualmente exigentes na qualidade e no rigor, são tendencialmente adeptos de um modo de vestir mais informal, pelo que  têm “obrigado” alguns  alfaiates/alfaiatarias a  inovar e a (re)inventar. No entanto, e por outro lado, estes artífices não deixam de reconhecer que a linha clássica continua a ser uma constante, imprimindo assim intemporalidade à profissão, também no que concerne aos instrumentos e ferramentas não há grandes alterações a registar. Apontaram apenas o ferro que deixou de ser a carvão, para ser eléctrico e mais recentemente de caldeira a vapor. Tal como subscreveram as palavras de João Ribeiro, da Loureiro & Nogueira, quando apontou a “aptidão, paciência e habilidade, e acima de tudo, ter gosto por aquilo que se faz” como os principais requisitos à profissão.
Um parêntesis para recordar o ano de 1934, ano em que abriu a 1ª Escola de Alfaiates em Portugal, denominada Maguidal - método e técnica, que ficou baptizado pelas iniciais do nome do seu criador, o alfaiate Manuel Guilherme de Almeida. Muitos foram os que se fizeram alfaiates com os ensinamentos desta Academia de corte, não obstante outros terem ido mais longe fazer a sua especialização, nomeadamente a Inglaterra, a qual a par com Itália, continua a ocupar lugar de cimeira no que tange ao aprovisionamento da matéria-prima, em particular as fazendas.
Quanto às instalações, por norma em andar, são espaços tri-partidos constituídos pela sala de atendimento, o gabinete de provas e a oficina, onde, de um modo geral, o requinte casa com a sobriedade, num estilo clássico datado de meados do séc. XX. A terminar, assinala-se o sentimento manifestado pela classe: “há mais falta de continuadores, ou seja, de aprendizes interessados no ofício, do que de clientes”!  
  
Judite Lourenço Reis e Guilherme Pereira com a colaboração de André Guerreiro, Deolinda Lourenço, Luisa Siborro, Manuela Paias e Vítor Silvestre (ISCTE-IUL)

Um bom alfaiate

A profissão de alfaiate é das mais antigas do mundo. Desde os primórdios, esta profissão foi das mais importantes pela influência social dos que se apresentavam bem vestidos.
Os alfaiates são profissionais que desenham, cortam, costuram e melhoram as roupas. Existem os que trabalham em lojas, fazem consertos, alargam ou ajustam as peças ao corpo do cliente, ou na confecção de figurinos para espectáculos. Existem ainda alfaiates que trabalham nas linhas de indústrias de confecção. Os alfaiates tradicionais têm o seu próprio atelier, trabalham como autónomos, atendendo clientes em casa ou costurando peças por encomenda.
Para confeccionar ou consertar as roupas, os alfaiates tiram medidas ao cliente, traçam moldes e cortam o tecido segundo o molde, alinhavando depois as peças. Fazem uma prova no corpo do cliente e efectuam alguns ajustes. Por fim costuram e fazem o acabamento.
Na maioria das vezes, os alfaiates recebem o tecido e o desenho do modelo, mas podem também fazer sugestões.
Os alfaiates que são contratados por indústrias executam tarefas específicas na linha de produção. Na indústria de confecção, os alfaiates são normalmente responsáveis pela primeira adaptação das peças que entram na linha de produção em série. Já no comércio é comum o alfaiate fazer parte de uma equipa responsável pelos ajustes necessários a serem realizados nas peças de vestuário vendidas às lojas.
O mercado de trabalho para os alfaiates é bastante competitivo. A automação e a concorrência dos produtos importados de boa qualidade e baixo preço, afectam a indústria de confecções, reflectindo-se esta situação no mercado de trabalho.
Um bom alfaiate desenvolve normalmente uma clientela cativa, e são considerados consultores de moda, sugerindo e orientando os seus clientes no uso adequado de tecidos e cortes conforme a tendência de moda e características pessoais.
Algumas características mais importantes de um bom alfaiate são: boa capacidade de visão, capacidade de comunicação, habilidade manual, interesse por moda, senso estético, concentração e atenção a detalhes.
Para o exercício desta profissão não há exigência de formação profissional. Esta é uma das profissões onde a prática forma o mestre. É sempre recomendável a qualificação através de cursos e o uso de máquinas de costura e de acabamento. Alguns conhecimentos como desenho e informática são também necessários para os profissionais que optarem por trabalhar na indústria de confecção.

 Urbietorbi
Cristina Souto e Andreia Martins e Ana Gaspar e Nilce Teixeira e Eulália Garcia