terça-feira, 24 de julho de 2012

Dia do Alfaiate e da Modista




Longe vão os tempos em que a costureira, na aldeia, era uma figura de estilo! Andava de casa em casa, a prestar o seu serviço, às famílias, fazendo-se acompanhar da sua ferramenta de trabalho – a máquina de costura, normalmente uma Singer.
Costureira era uma profissão de topo, numa sociedade rural em que na hierarquia feminina, a mulher era uma trabalhadora indiferenciada, que nem sequer conquistara o título de camponesa! Este, só no Alentejo, associado a uma certa conotação política, personificado na figura de Catarina Eufémia!
Cada família tinha a sua costureira, que ia confecionar a roupa necessária, por medida e ao gosto particular da mãe e dona de casa.
O alfaiate, figura de destaque, no local onde residia, era um costureiro, por isso, devia acompanhar a moda e atualizar os modelos e tecidos das roupas. Mulheres que exigiam modelos exclusivos ou homens que desejassem usar um figurino elegante procuravam o alfaiate para compor seu estilo. O prêt-à-porter, ou “pronto a vestir”, vai na contramão do alfaiate, pois produz roupas em linhas de montagem, enquanto o alfaiate trabalha com modelos exclusivos.
Pode-se dizer que não há muita diferença entre o alfaiate e o costureiro ou costureira comum. Mas os alfaiates que ficaram famosos, por costurar para pessoas da elite social, dão certo glamour à palavra.
Os profissionais da área, geralmente, trabalham num atelier e, quando precisam de ajuda, contratam aprendizes.
Reportando-me à minha meninice e juventude, recordo a cena da costureira que vinha a nossa casa, fazer os vestidos para as meninas, as calças para os homens e toda a espécie de indumentária. A mesa da sala de jantar era o palco das operações, já que aí se estendia o tecido, se talhava a roupa e se procedia a todos os passos. A máquina que viera com a costureira ou já fazia parte do espólio da família, trabalhava, trabalhava, naquele som característico da agulha a deslizar no tecido, movida pelo pé no pedal.
Havia casas que dispunham já da máquina de costura, na altura considerada um pequeno luxo, pois só alguns tinham posses para tal. Em famílias, como a do Zé da Rosa, com cinco mulheres em casa, a compra desse apetrecho fora uma aposta na profissão de costureira. Uma das quatro filhas, poderia enveredar por aí!
Tem tanto empenho nesse objeto, que a velha máquina, quase abandonada a um canto da casa, foi recuperada para o mundo dos vivos, mandada restaurar e levada para casa desta criatura, que não sendo costureira, sabe estimá-la e... usá-la quando mais não seja, para matar saudades dos velhos tempos em que a usava, frequentemente, nas longas férias de verão.... a fazer roupa para as bonecas!
A minha relação com esta profissão foi sempre muito próxima já que me sinto privilegiada... gostava de criar os meus próprios modelos de roupa, com alguma originalidade e... descobri, na Invicta, na minha passagem por lá, a pessoa talhada para me satisfazer todos os meus caprichos de moda – a Menina Maria!
Apesar de ser uma pessoa madura na idade e na experiência, todas as suas clientes a tratavam carinhosamente pelo diminutivo e confiavam-lhe todos os seus gostos, por mais exigentes que fossem. A Menina Maria sabia dar conta de todo o tipo de peça de vestuário, que lhe vinha parar às mãos: vestidos, saias, casacos de toda a forma e feitio, vestidos de noiva, enxovais, etc, etc. Nunca antes, na juventude, encontrara umas mãos tão sábias no corte, nunca vira tanta competência na arte de confecionar roupa. Aí, eu sentia-me, verdadeiramente abençoada, pois tinha encontrado alguém que sabia interpretar os meus anseios e os meu desejo de requinte!!! E... conseguia, assim, ter modelos absolutamente exclusivos! Eu desenhava-os e a menina Maria executava!
Quando punha a roupa em prova, lá me chamava a sua casa e tinha tanta paciência comigo! Nunca a vi esboçar qualquer enfado nem protesto com alguma coisa mais exigente que lhe pedisse. Quando provava o decote, já sabia... não poderia exceder a medida do razoável, isto é, a minha medida... pois não tinham ainda chegado os dias de hoje, em que a liberalização do decote... não tem medida!
Nunca foi meu lema de vida “Maria vai com as outras” e apesar de a moda ditar as suas leis, estas como todas as outras, para os anarquistas... só servem para violar!
Era assim, naquele tempo e... continua a ser assim, nos dias de hoje, pois não é do meu feitio exibir os “dons” que a natureza me deu!

Por Maria Donzília Almeida