Amanhã, realiza-se, em Belmonte, o 19.° Encontro Nacional de Mestres Alfaiates. A iniciativa leva vida longa, mas pode não dobrar o número de edições: dentro de 20 anos, a arte pode desaparecer.
O organizador, Carlos Godinho, autorizado por 46 anos de viagens pelo país no seu comércio de tecidos, estima abaixo dos dois mil o número de profissionais e nulo o de aprendizes. "Os alfaiates mais novos devem ter uns 40 anos de idade e se houver 20 ou 30 nessa faixa é muito. Por isso, eu digo: daqui a uns 20 anos já não há alfaiates em Portugal".
Pode restar uma minoria, pois "talvez 40% consigam fazer alguma coisa para clientes abastados", obra com preços a partir dos 750 euros. Mas o resto "tem pouco que fazer", explicou, citado pela agência Lusa. "Trabalha para a classe média, que não já tem dinheiro para ir ao alfaiate, nem para fazer um dos fatos mais baratos" - a partir de 120 euros.
Lá vai o tempo em que "toda a gente tinha o seu fatinho". O mercado ditou a extinção dos mestres alfaiates, é certo, mas o Estado não ajuda, critica. "Nunca se criaram escolas para ensinar a arte, nunca se criou um estatuto para o alfaiate, deixaram os alfaiates sobrecarregados de impostos e sem incentivos à profissão", enuncia, propondo a eliminação do IVA sobre a mão-de-obra e incentivos ao emprego de aprendizes, cujos primeiros três ou quatro anos de aprendizagem "nada rendem".
"Daqui a uns anos, temos que fazer o mesmo que os Estados Unidos, que levaram italianos, gregos e portugueses para lá, porque ficaram sem alfaiates. Conheci alguns, da Guarda, que não hesitarem, porque tinham viagem e casa pagas", conta. "Se me perguntarem se ainda há razões para haver alfaiates, eu pergunto se ainda há razões para um homem querer andar elegante, bem vestido, com um fato a cair bem", observa. Ou então quem não encontra tamanho que lhe sirva no pronto-a-vestir. "Os alfaiates transformam um corpo mal feito numa obra de arte", garante.
O Encontro Nacional de Mestres Alfaiates realiza-se no último domingo de Maio, dia do padroeiro, "o Santo Homem Bom, de Itália, uma tradição que foi trazida para Portugal". A edição deste ano tem 60 inscritos - poucos "porque o negócio está fraco e os combustíveis subiram muito" -mas promete animar Belmonte com visitas ao património local e um almoço-convívio.
Nuno Alegria
In JN
23/05/2008
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