quinta-feira, 25 de maio de 2023
sábado, 30 de abril de 2022
domingo, 31 de maio de 2020
Hoje seria o XXXI Encontro Nacional de Mestres Alfaiates
Por esta hora, na forte, farta, fria, fiel e formosa cidade da Guarda, devidamente vestidos a rigor, os mestres Alfaiates de todo o país já estariam unidos e reunidos. Mas não estão. Este ano, mais de três décadas depois, não estão. Contudo, cada um no seu canto, tem hoje ainda mais a firme vontade que, daqui a um ano, lá estejamos todos juntos de novo.
Só nós sabemos o significado do dia de hoje, só nós sentimos o que custa não o celebrar.
Neste dia, celebrado religiosamente no último domingo do mês de maio, a agulha e o dedal vêem os companheiros sair cedo e chegar ao fim do dia, e, numa estranha acalmia, os nossos ateliês são tomados pelo silêncio.
É o momento pelo qual esperamos todo o ano, muito porque é o único em que estamos com os nossos companheiros de profissão, a quem orgulhosamente chamamos amigos.
Entre sorrisos, histórias, experiências e opiniões, descosemos e alinhavamos um ano de trabalho com testemunhos de norte a sul, do mais velho ao mais novo, do mais ao menos experiente, do que usa a calça mais larga ao que a prefere justa.
Entre chegadas, cerimónias e pratos, há muito para contar, e pouco tempo para o fazer. Há avós, há pais, há filhos. Há, sobretudo, um legado que é deixado por esta arte tão complexa. Há um rasto de sacrifício, pois apenas quem não vive ou convive com quem exerce a arte, pode acreditar que esta não marca o corpo. Há noites que ficaram por dormir, há um corpo e uma cabeça - principalmente cabeça - levados ao extremo, mas há também muito orgulho.
Orgulho em exercer esta nobre arte.
Só nós sabemos o significado do dia de hoje, só nós sentimos o que custa não o celebrar.
Neste dia, celebrado religiosamente no último domingo do mês de maio, a agulha e o dedal vêem os companheiros sair cedo e chegar ao fim do dia, e, numa estranha acalmia, os nossos ateliês são tomados pelo silêncio.
É o momento pelo qual esperamos todo o ano, muito porque é o único em que estamos com os nossos companheiros de profissão, a quem orgulhosamente chamamos amigos.
Entre sorrisos, histórias, experiências e opiniões, descosemos e alinhavamos um ano de trabalho com testemunhos de norte a sul, do mais velho ao mais novo, do mais ao menos experiente, do que usa a calça mais larga ao que a prefere justa.
Entre chegadas, cerimónias e pratos, há muito para contar, e pouco tempo para o fazer. Há avós, há pais, há filhos. Há, sobretudo, um legado que é deixado por esta arte tão complexa. Há um rasto de sacrifício, pois apenas quem não vive ou convive com quem exerce a arte, pode acreditar que esta não marca o corpo. Há noites que ficaram por dormir, há um corpo e uma cabeça - principalmente cabeça - levados ao extremo, mas há também muito orgulho.
Orgulho em exercer esta nobre arte.
sexta-feira, 20 de dezembro de 2019
Exposição recorda alfaiataria de Vítor Gaspar
Entre 10 de janeiro e 28 de fevereiro de 2020, a Exposição Temporária “O Alfaiate - uma coleção de Vítor Gaspar”, no Auditório Municipal de Pinhal Novo, vai permitir saber mais sobre a arte da alfaiataria e conhecer a coleção particular e a história de vida deste alfaiate aposentado.
Vítor Gaspar nasceu em Setúbal, em 1934. Foi a profissão da mãe, costureira, que o fez ganhar o gosto por este ofício. Ainda em criança, em Lisboa, trabalhou como aprendiz em várias alfaiatarias. Os conhecimentos que foi adquirindo através da leitura ávida de revistas técnicas e da prática profissional permitiram-lhe, aos 21 anos, ser já contramestre numa alfaiataria. Foi nesta altura que decidiu ir estudar para a única escola oficial do país, a Academia Maguidal, onde frequentou o curso de Corte de Vestuário de Homem e, no ano seguinte (1958), concluiu, com distinção, o curso de Vestuário Género Alfaiate para Senhoras.
Em 1958, em Setúbal, abriu a Alfaiataria Vítor Gaspar conhecida como uma das melhores da cidade. Não tinha mãos a medir para as encomendas e era necessário aguardar, em média, três meses por um fato. Fechou as portas em 1989, numa altura em que o pronto-a-vestir desviou a clientela. No entanto, a memória da Alfaiataria Vítor Gaspar permanece viva, através das exposições, do livro que publicou em 2019 e das palestras que dá em escolas. Aos 86 anos, deciciu também dedicar-se à pintura, criando a coleção “O Alfaiate através do tempo”, constituída por mais de 20 telas, que pretende retratar a evolução da sua profissão.
Em exposição no Auditório de Pinhal Novo, vão estar alguns instrumentos de trabalho que Vítor Gaspar utilizava no seu dia a dia (tesoura, linha de alinhavar, livro de medidas, entre outros), tecidos, fatos que confecionou e fotos que retratam momentos importantes da sua vida. Ao mesmo tempo, a mostra vai dar a conhecer a história da alfaiataria, da ascensão à queda, numa oportunidade para refletir sobre a indústria têxtil, os Direitos Humanos e a sustentabilidade.
Organizada pela Câmara Municipal de Palmela e por Vítor Gaspar, com o apoio do Victoria & Albert Museum, a Exposição, de entrada gratuita, vai poder ser visitada de terça a sexta-feira, das 10h00 às 19h00, e ao sábado, das 14h00 às 19h00 (encerra aos feriados).
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quinta-feira, 22 de agosto de 2019
Como continuar a ser alfaiate ou modista e sobreviver em tempo de pronto-a-vestir
José Alfaiate já só faz arranjos mas Helena Gomes continua a criar vestidos únicos.
Criar roupa à medida, de forma artesanal e exclusiva é tarefa de alfaiates e modistas, profissões que perdem terreno para o pronto-a-vestir.
“Andei quatro anos a aprender a arte sem ganhar um tostão”
José Ribeiro Antunes é o José Alfaiate de Azinhaga
Foi alfaiate toda a vida, mas hoje o que o ocupa são as emendas do pronto-a-vestir. José Alfaiate herdou as fazendas do mestre Fernando Amaral e a sua grande mágoa é não saber o que fazer aos tecidos de qualidade para os quais não tem encomendas e que ninguém quer comprar.
José, com 77 anos, nasceu no Pinheiro Grande, concelho da Chamusca, com uma deficiência num pé, uma condição que lhe condicionaria o rumo para o resto da vida. Ao invés de se dedicar à agricultura ou à indústria, os pais procuraram-lhe uma ocupação “mais leve” e deram-lhe a escolher entre alfaiate ou sapateiro. Por ser uma actividade limpa, José preferiu ser alfaiate. Depois de quatro anos a alinhavar o futuro, isto é, a aprender a profissão. José, de apelido Ribeiro Antunes, passou a responder como José Alfaiate.
Encontramo-lo na pequena loja onde se instalou há 20 anos, quando se reformou. É aqui, entre quatro paredes caiadas e forradas com prateleiras onde se amontoam fazendas, que José nos conta o que foi a sua vida e como pensa, em breve, deixar o negócio. Apesar de bem localizada, em frente à estátua de José Saramago, a loja não tem clientela que justifique continuar aberta e a pagar uma renda.
Como se desembaraçasse um carrinho de linhas, José volta aos tempos de infância para recordar que praticamente não a teve. Desde os 12 anos que trabalha como alfaiate, aprendeu o ofício com o mestre Fernando Amaral. Na afamada alfaiataria com o mesmo nome trabalhavam na altura, anos 70, sete homens e três mulheres. Faziam sobretudo fatos de montar e o trabalho era tanto que por vezes ultrapassava as 15 horas por dia. A alfaiataria da Azinhaga era solicitada por cavaleiros de toda a região e até do resto do país e do estrangeiro.
José tem saudades desses tempos e brinca com a sua deficiência de nascença, dizendo que começou por acidente, mas que lhe tomou o gosto. “Tem que haver gosto se não o trabalho não fica bem feito”, diz orgulhoso.
Na altura trabalhava por necessidade e muitas vezes o trabalho não tinha interrupções para fim-de-semana. Por isso nunca teve tempo para se divertir nem para experimentar coisas novas, como montar a cavalo. “Já não preciso de trabalhar tanto como antes. Tenho a reforma e isto é só um complemento, mas a idade já não permite grandes diversões”, lamenta o alfaiate.
As encomendas agora são raras, mas quando aparecem José aproveita para despachar as fazendas que herdou do mestre Fernando. Diz com mágoa que quando largar o ofício os tecidos devem ser para deitar fora. “Antes ainda havia quem comprasse trapos mas hoje nem isso há”.
Ficou com as fazendas do patrão porque nenhum dos filhos dele quis seguir a profissão do pai. Também ele tem um filho e dois netos já homens, mas ninguém quer seguir as suas pisadas. “Agora é só doutores, toda a gente tem que estudar e quando chegam aos 18 anos não vão começar a aprender um ofício, de sapateiro ou alfaiate. Vão para os hipermercados, querem começar logo a ganhar dinheiro. Andei quatro anos a aprender, sem ganhar um tostão”, desabafa.
“Agora faço arranjos da roupa do pronto a vestir”
Um fato completo podia levar cerca de uma semana a fazer e custava perto de 100 contos. Um valor que se mantém actualmente, entre os 450 e os 500 euros, conforme o feitio. Além do tecido há o trabalho de acolchoar e bordar a jaqueta. É preciso muita paciência e José diz já não a ter. Tem pena que se tenha perdido a tradição do alfaiate, mas confessa que há bons prontos-a-vestir.
São as emendas do que se compra já feito que lhe dão trabalho actualmente. Bainhas, apertar, alargar… mais roupa de homem, mas também alguma de senhora uma vez que, como diz José, a maior parte das mulheres já não sabe costurar.
Quando deixar a loja vai continuar a dar uns pontos para não perder o jeito. Uma das quatro máquinas que tem e que também herdou de Fernando Amaral, vai certamente acompanhá-lo. A velhinha Pfaff, com mais de 60 anos na sua posse, é uma boa candidata. “É a melhor delas todas, a que menos avaria”, conta, enquanto acciona o pedal e mostra a carreira de pontos perfeitos num pedaço de tecido.
Helena Gomes faz vestidos exclusivos porque recusa vestir duas pessoas de igual
Chegou a trabalhar numa fábrica de confecções mas saiu para criar o seu ateliê.
Havia uma em todas as ruas. Agora é mais difícil encontrar uma costureira do que uma agulha no palheiro. Em Azambuja batemos à porta do ateliê de Helena Gomes que continua a trabalhar de fita métrica ao pescoço e dedal no dedo.
Quando Helena Gomes se tornou modista profissional, em 1980, era comum passar na rua e ver mulheres de fita métrica ao pescoço, debruçadas sobre a máquina de corte e costura, nos seus ateliês.
Com 23 anos e sem nenhuma tradição familiar na costura, decidiu aprender o ofício numa escola em Lisboa, onde lhe foi ensinada ao pormenor a técnica de fazer roupa por medida.
Ainda trabalhou em fábricas de confecções, até ousar criar o seu próprio ateliê de costura, no Cartaxo, onde esteve onze anos até se mudar para a Avenida dos Condes, em Azambuja, onde exerce actualmente a profissão.
A oficina de costura por medida, com bustos a assinalar os cantos, rolos de linhas de todas as cores cuidadosamente alinhados nas estantes e máquinas de corte e cose é o habitat natural de Helena Gomes. Aos 62 anos diz estar cansada do trabalho que lhe “dá conta do sistema nervoso” mas considera que ainda não chegou a hora de encostar a agulha e o dedal.
Chega todos os dias às 09h00 e só deixa o ateliê perto das 21h00. “Não posso dizer que seja um sacrifício porque tenho uma paixão enorme pelo que faço, mas se uma encomenda não me corre bem e o tempo de entrega é curto, dá-me vontade de arrancar os cabelos”, diz a O MIRANTE.
Pelas suas mãos continuam a ser confeccionadas peças exclusivas, já que recusa fazer duas iguais. “Posso pegar no mesmo modelo, mas a peça terá sempre que ter alguma alteração. Não vou vestir uma pessoa igual à outra, porque viu e gostou”.
Os vestidos de gala continuam a ser o vestuário mais procurado entre as suas clientes, mas engane-se quem pensa que sai mais em conta do que ir às lojas de pronto-a-vestir. “São trabalhos demorados que ficam muito caros pela mão de obra que exigem”, afirma a modista, lamentando que haja quem não valorize o seu trabalho.
O processo de vestir por medida é lento e complexo, mas o prazo de entrega “jamais pode falhar”. É por aí que a modista de Azambuja começa. Abre a agenda pousada em cima do balcão e anota a data de entrega e do dia da prova. Depois tira as medidas e já com o tecido escolhido pela cliente, corta, marca e cose-o à mão.
“Faz-se a primeira prova e se não assentar na perfeição volta-se a desmanchar tudo e a recomeçar. Se compensa? Em termos de realização pessoal e se ficar satisfeita com o meu trabalho compensa, mas nem sempre compensa em termos do que ganho”, sublinha. Para ilustrar o que diz conta que chegou a fechar o ateliê durante 15 dias para terminar um vestido de noiva que levou um mês a fazer.
“Fiz a toga que a Ordem dos Advogados ofereceu ao Presidente da República”
Noutros tempos chegava a coser madrugada dentro roupas que confeccionava em exclusivo para uma loja. Nunca vestiu ninguém famoso mas já fez uma toga para Marcelo Rebelo de Sousa, encomendada pela Ordem dos Advogados quando o professor de Direito foi eleito Presidente da República.
O ritmo de trabalho frenético é suavizado pela música que passa na rádio e que Helena Gomes não dispensa. “Seria um tédio estar sentada horas a fio na mesma posição e em silêncio”, diz depois de dar nota das tendinites, dedos dormentes e da coluna “assassinada por passar horas na mesma posição”.
Ao seu lado sentam-se duas aprendizes. Estão a tirar um curso profissional de costura e é no ateliê de Helena Gomes que vão estagiar durante um ano. Aprender a fazer uma bainha, a desmanchar uma peça e a fazer remendos. É por aqui que se começa. “Mas há quem chegue e ache que já tem habilitações para fazer vestidos de noiva. Engana-se! Este é um trabalho que requer anos de prática”, explica.
“Ser costureira é mais do que saber coser à máquina. Temos de ser criativas e perfeccionistas. Saber que tecidos conjugam e o que vai assentar melhor àquela cliente. Temos de ser exigentes e valorizar o nosso trabalho”. É desta forma que Helena Gomes defende a profissão com que já sonhava aos oito anos, quando às escondidas cosia na máquina de pedal da mãe e lhe partia as agulhas todas.
“Agora somos cada vez menos e a procura é cada vez maior, até para se coser um botão. Já quase ninguém sabe fazer essas coisas”, atira. É assim em Azambuja e já o era no Cartaxo quando chegou a remendar dezenas de vezes o mesmo par de calças. “Aquela peça já era mais um remendo com um bocado de calças, mas o cliente tinha uma estima enorme naquela peça”, recorda.
Nos últimos anos, modernizou-se. Aprendeu a trabalhar com um computador e o filho criou-lhe um site para o seu ateliê. É através dele que lhe chega a maioria dos novos clientes. “A profissão é antiga mas temos de nos adaptar aos novos tempos”, refere a modista que ainda hoje sonha criar uma marca própria.
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segunda-feira, 3 de junho de 2019
Certificação de Alfaiates
“É Alfaiate mas não tem nenhum certificado que o comprove?
Dirija-se ao Centro Qualifica do CEARTE e certifique a sua experiência profissional através do RVCC de Alfaiate.
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