quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Loureiro e Nogueira - O alfaiate «quase por imposição»



O ofício de alfaiate surgiu «quase por imposição». Sem colégios 
para prosseguir os estudos em Benavila, Alentejo, João Ribeiro escolheu a prática do corte e costura para ganhar a vida. Em Lisboa fez-se mestre e, há 20 anos, estabeleceu-se por conta própria na Alfaiataria Loureiro e Nogueira. Com astúcia e rigor manteve os clientes que trouxe do local onde anteriormente trabalhava e soube renovar a clientela. Aos 62 anos lamenta que a profissão em Portugal não seja tão reconhecida como outrora.


Na rua há o burburinho de quem aguarda vez para entrar num dos elevadores mais emblemáticos de Lisboa. O elevador de Santa Justa foi desenhado pelo engenheiro português Raoul Mesnier du Ponsard. O ascensor que liga a Baixa pombalina ao Bairro Alto funciona desde 1902 e atrai todos os dias milhares de turistas


No número 79, 1º andar, da rua com o mesmo nome do elevador, indiferente ao burburinho da cidade, João Ribeiro exerce profissão antiga: é alfaiate. De origem alentejana, conta que «na terra, Benavila, concelho de Avis, não havia colégios, nada para estudar. Tinha pois de escolher uma profissão. Foi quase por imposição porque não havia muito por onde escolher». Foi assim que ainda em Avis, João Ribeiro começou a dar os primeiros passos no ofício de «cortar e coser. Hoje gosto muito do que faço», sublinha.

Os alfaiates eram tidos em grande consideração. A profissão era exigente e, por isso, reconhecida pela sociedade. Com instrumentos simples, tesoura, régua, giz, exigia-se, contudo, ao alfaiate que tivesse bons conhecimentos de geometria e aritmética.

João Ribeiro gosta de adicionar um pouco de «sorte» a estes factores. Na Alfaiataria Loureiro e Nogueira, que gere desde 1992, comenta, espreitando por cima dos óculos, suportados na ponta do nariz: «Quando vim para Lisboa, estive em algumas casas. Aquela onde estive mais tempo, 29 anos, foi na Alfaiataria David, na Rua de São Nicolau. O senhor David era judeu e homem com muita visão para o negócio. Foi aí que aprendi praticamente tudo. Tive sorte».

«O senhor David tinha visão de negócio. Antes mesmo do pronto-a-vestir existir em todo o lado, ele já tinha algumas peças à venda, como camisas, pólos, gravatas. Estava preparado para este avanço. Era um visionário. E isto foi o que sustentou a alfaiataria. As encomendas de roupa por medida diminuíram. Eu estive na Alfaiataria David até ela praticamente fechar portas. Saí e pouco tempo depois aquilo encerrou, já o senhor David havia falecido há alguns anos», explica João Ribeiro.

A Alfaiataria Loureiro e Nogueira foi fundada em 1930, as quotas
 do espaço foram cedidas a vários alfaiates e, em 1992, chegaram 
às mãos do alentejano João Ribeiro. O espaço pequeno mantém-se igual. Uma pequena sala, com um cabide para pendurar chapéus e sobretudos, acolhe o cliente após subir as escadas de madeira votadas, quase, ao abandono. O prédio há muito que vê os habitantes partirem para  outras casas, mais modernas, e afastadas do centro histórico da cidade.

O chão e os móveis são de madeira. Contrastam com as paredes brancas. Uma habitação pequena alberga a mesa para marcar roupa, e manequins vestidos com casacos, calças, sobretudos. Peças de roupa feitas com preceito e por medida que aguardam os donos.

«Tenho clientes que fazem 10, 12 fatos por ano. Há pessoas que têm mania da roupa. Fazem porque gostam. Os tecidos vêm sobretudo de Itália e Inglaterra, a indústria cá desapareceu e o que há não tem muita qualidade, mau acabamento», diz o alfaiate.
Alguns tecidos estão expostos numa prateleira logo que entramos no atelier Loureiro e Nogueira. No centro da sala, está a mesa para desenhar. Com o giz, João Ribeiro faz uns rabiscos num casaco que, para um leigo no ofício, parece estar concluído».
O alfaiate apressa-se a explicar: «O cliente veio há pouco provar o casaco. Estava já concluído. Mas ele quer que fique um pouco mais cintado. É isso que estou a fazer. Faço o desenho do que deve ser retirado e dou às costureiras para elas retirarem o excesso».

Costureiras hoje são duas, que trabalham numa pequena sala. Dividem o espaço com máquinas de costura e ferros. «Já tenho ferros eléctrico, mas uso pouco. Quando é para entregar a roupa, já o trabalho final uso sempre o ferro a carvão. É pesado e leva o tecido para onde nós queremos», comenta João, piscando o olho, em jeito de quem acaba de confessar um pequeno truque do ofício.
Entre os clientes gosta de referir, Mário Soares, o político. «Vestiu-o durante toda a sua presidência», comenta. Mas na carteira de fregueses, há outro, mais anónimo, que João Ribeiro gosta sempre de citar, ainda que sem nomes.

«O senhor Teixeira, o alfaiate que aqui estava queria reformar-se e propôs-me que eu comprasse as quotas. Mas eu não tinha dinheiro e a banca não emprestava como hoje. Então pedi emprestado a um cliente meu na casa David. Sai então desta alfaiataria e, claro, trouxe a clientela atrás. Há 20 anos quando me estabeleci aqui, eu tinha a clientela toda na mão. As pessoas vão atrás do profissional. E foi assim que me estabeleci por conta própria».
Num ofício em vias de extinção, João Ribeiro conta como renovou a carteira de clientes. «Os clientes eram todos velhotes e percebi que tinha de renovar a clientela. Foi então que fiz facilidade de pagamento. A única vez que isso aconteceu na minha casa. Aos jovens que estavam a iniciar a carreira, permiti-lhes que pagassem em duas ou três vezes. Hoje estão todos bem empregados e pagam a pronto. Mas assim consegui rejuvenescer os meus clientes», afirma.

Aos 62 anos, João Ribeiro confessa ter disposição para trabalhar mais alguns anos e conclui que «gostava de ter quem lhe seguisse os passos. Poucos são os que procuram a actividade e os que querem seguir o ofício vão para fora onde o ofício é mais reconhecido».

Sara Pelicano

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O Alfaiate


Esta é uma pessoa incrível ...
Ele é o mais antigo alfaiate de Amarante, Portugal.
Com Oitenta e oito anos o Sr. Gonçalves, avô de Ana, ama seu trabalho e acorda todos os dias às 6:00 para ir ao seu local de trabalho ...
Foi muito bom falar com ele ...

José Augusto o alfaiate dos diplomatas


Em Lisboa, em plena baixa pombalina, José Augusto assegura o funcionamento da Alfaiataria Ernesto Martins, fundada em 1940. Entre os clientes, muitos ilustres que procuram o corte firme e certo do alfaiate e a distinção do espaço. A alfaiataria é ampla, com sala de recepção onde se escolhem tecidos, sala de provas e oficina de trabalho.

Um pedaço de tecido, sem forma. Em cima do tecido está um molde recortado em papel. Num primeiro olhar percebemos que reproduz o formato de uma perna. José Augusto segura o giz na mão. Com segurança e rapidez faz uns traços no tecido, contornando o pedaço de papel. No tecido, o desenho copia a forma que vimos, primeiro, no papel. «Isto é o molde de um cliente. Quando se faz o desenho dá-se sempre uma folga para os ajustes», conta José Augusto, alfaiate desde os 12 anos.

A Alfaiataria Ernesto Martins foi fundada em 1940 pelo alfaiate com o mesmo nome. José Augusto, natural de São João da Pesqueira, distrito de Viseu, chegou aqui depois de passar pela tropa. Seguiram-se anos de aprendizagem, de infinitas horas debruçado sobre os tecidos, os moldes, os cortes, os remates finais.

Em 1993 José Augusto adquiriu o espaço. Hoje, a alfaiataria lisboeta, na Rua da Conceição, porta número 7, mantém-se com a elegância de sempre.

Os móveis de madeira expõem alguns fatos já terminados. Móveis que arrumam também muitas amostras de tecidos. Tudo meticulosamente disposto e pronto para receber os ilustres clientes.

«Nomes não posso adiantar, mas a nossa clientela é essencialmente constituída por embaixadores, corpo diplomático, políticos», diz José Augusto com vincado orgulho. O anfitrião na arte do corte e costura acrescenta ainda: «Há um ministro da actualidade que a primeira vez que aqui entrou foi pela mão do pai para fazer o fato da primeira comunhão. Ainda hoje cá vem. O pai vinha e avô também». Uma sucessão de gerações em busca da mão firme de José Augusto para o corte e costura. A alfaiataria localizada num primeiro andar tem uma sala de recepção. Aqui, uma mesa de madeira maciça suporta os mostruários dos tecidos. «São todos importados. Portugal não tem fazendas de excelente qualidade. Usamos sedas, algodão, lã», diz José Augusto.

Por seu turno, a sala de provas, ampla, abre-se para uma janela que permite espreitar a rua da baixa pombalina. Jorra a luz natural. «Temos estes dois espelhos grandes, colocados frente a frente e giratórios. Permitem que o cliente veja frente e costas sem ter de torcer o pescoço».
Avançamos através de um corredor estreito. Está «forrado» de caixas. Dentro destas, parte da matéria-prima do alfaiate: linhas e botões. Chegamos à sala de trabalho. Um espaço grande, com mesa de corte, tábuas de passar a ferro e máquinas de costura. Neste espaço, José Augusto conta com a ajuda de três costureiras, uma delas sua esposa. «Algumas estão aqui há 40 anos», diz José Augusto. Noutros tempos, contudo, trabalhavam aqui 30 pessoas.
«O que mais gosto de fazer é a casaca, aquela com as asas de grilo, cortada à frente. É usada normalmente pelos maestros. Eu costumo fazer para o corpo diplomático, embaixadores. Outra peça que também me apraz é o fraque. Está cheio de pormenores», diz José Augusto, enquanto estica um tecido escuro. Coloca o molde de papel por cima e com o giz marca no tecido o desenho do molde.Noutros casos, para desenhar o modelo do fato recorre-se ao esquadro e régua. Nos utensílios do alfaiate junta-se a tesoura, o ferro, as linhas de alinhavar e coser, botões. «Continuo a passar as roupas com ferro a carvão. É mais pesado e faz melhor os vincos», explica o anfitrião.

Um saber fazer fundado numa tradição milenar, como atesta a história. O termo «alfaiate» tem origem na expressão árabe Al-Kaiat. O verbo khata significa coser. Já do latim, herdámos a expressão sarcir, que diz respeito à técnica de remendar um tecido roto com outro pedaço de tecido semelhante. Sarcir advém do verbo sarcire, que significa coser. Entre nós, uma das referências mais antigas do ofício de alfaiate remonta ao século XII. Na época, o alfaiate gozava de grande prestígio no reino de Portugal, especialmente entre os judeus. Um ofício ancestral que José Augusto já ensinou a alguns jovens. Todos saíram da alfaiataria. «A grande maioria não seguiu a profissão. Vive-se deste ofício, mas ganhar dinheiro não posso dizer que se ganhe. Eu já estou reformado, continuo a trabalhar por gosto, mas também por necessidade», explica.


Sara Pelicano

Café Portugal


terça-feira, 8 de novembro de 2011

Lisboa - A «janela indiscreta» do alfaiate Brito

     Faltavam 11 dias para a «Revolução dos Cravos» de 1974. Facto que o alentejano Francisco Brito não poderia antecipar. Na altura comprava a alfaiataria onde já trabalhava, em pleno Rossio. Sem o saber adquiria uma janela com vista para um dos palcos da Revolução. Indiferente, Francisco continuou a marcar os tecidos com giz, a cortar e a coser. Passados 37 anos, o alfaiate mantém viva a sua arte no mesmo local.


 É do corte e costura que Francisco Sabino Brito faz arte e profissão desde os tempos da meninice, quando os horizontes eram alentejanos, os de Almodôvar. Aos 17 anos, Francisco parte para Lisboa onde o seu percurso de alfaiate havia de se cruzar com uma janela cobiçada.

«Comecei na actividade como aprendiz, aos 14 anos, ainda em Almodôvar. Naquela altura aprendiam-se ofícios como o de alfaiate, sapateiro ou carpinteiro», conta Francisco Sabino Brito na sua alfaiataria, a mesma onde se iniciou ao vir para Lisboa. «Cheguei à capital aos 17 anos. Depois, aos 20 fui para a tropa. Regressei aqui e a 14 de Abril de 1974 comprei a casa ao meu patrão. Isto 11 dias antes da Revolução», diz o alfaiate.

O número 93 da Praça D. Pedro IV (Rossio) tem vista privilegiada para a rua através da pequena janela da sala de corte e costura. A morada da Alfaiataria Brito ganha, assim, uma vista privilegiada para uma das mais cosmopolitas praças de Lisboa. Onde hoje há carros em buliço, turistas descontraídos e esplanadas de pendor estival, outrora anteciparam-se algumas movimentações para o dia que marcaria no calendário da História a «Revolução dos Cravos».

Francisco Brito, 61 anos carregados de genica, baixa o tom de voz quando refere a data da compra e as movimentações em torno da dita janela. Passados 37 anos sobre o fim do regime salazarista, Francisco sussurra quando remete as palavras para esse passado.
Na época a sorte como alfaiate esteve do seu lado, refere Francisco Brito. «No quarto onde vivia quando cheguei a Lisboa, morava também um alfaiate. Ele tinha a par do seu emprego, uma carteira de clientes. À noite no quarto ia costurando os fatos, ajudado por algumas costureiras. E ensinou-me muita coisa. Eu aprendia de noite e de dia. Isto fez com que chegasse a oficial muito rapidamente», explica Francisco Brito.

De aprendiz de alfaiataria, Francisco completou a sua passagem a oficial. O topo da carreira viria mais tarde como contra-mestre, «aquele que apenas corta». Um percurso rápido feito entre paredes caiadas de branco, onde a luz da rua entra pela única janela, aquela que dá vista para o Rossio.
A conversa faz-se na sala de espera, pequena. Aqui o cliente aguarda a sua vez, ocupando o tempo, provavelmente, com um dos inúmeros catálogos com amostras de tecido.
Da famosa janela, chega o burburinho da rua. Há quem apregoe a sorte contida numa fracção da lotaria. Há quem ponha a conversa em dia numa esplanada. Francisco Brito confessa que não gostava da fama da sua janela noutros tempos. «Nunca deixava vir aqui ninguém, sobretudo se era dia de muitas movimentações», conta, retomando o tom sussurrado.
«Houve, contudo, um dia que apareceu aqui uma moça sueca, com uma perna engessada. Pediu para fazer uma filmagem. Hesitei, mas ao ver o estado da moça e o esforço que terá feito para subir as escadas deixei-a entrar. Passou todo o dia na janela a filmar», pormenoriza o alfaiate.
Enquanto a «moça sueca» filmava a Praça do Rossio na década de 1970, Francisco Brito e os nove funcionários que naquela altura empregava, estendiam o tecido sobre a mesa. Gestos que se repetem hoje. Giz branco e mão certeira para desenhar o formato da roupa com o auxílio de uma régua e esquadro. A tesoura, grande e afiada, retira o excedente de tecido. As costureiras, com máquinas de coser e à mão, unem o restante e a roupa ganha forma.

No terceiro andar da Alfaiataria Brito, não há corredores. Da sala de espera a porta abre-se, dando imediatamente acesso à sala de provas. Um espaço rectangular com o espelho e um manequim para colocar os casacos.
«É aqui que um alfaiate mostra o que vale», adianta Francisco no espaço pequeno, abrigo das vaidades dos clientes. «Um bom alfaiate é aquele que faz bons ajustes. Repare, posso fazer um casaco de medida de peito 48, com um molde de 52, porque é aqui, quando o cliente prova, que ajusto», diz, entusiasmado.
«O corpo das pessoas varia muito, há uns que têm a barriga para fora, outros para dentro. Há ajustes nas mangas, muita coisa», conclui.

Uma das portas da sala de provas dá por fim acesso ao espaço de trabalho. Aqui, há máquinas de coser, tábuas de passar a ferro, pedaços de tecido caídos no chão, roupa alinhavada à espera da costureira. Há a famosa janela.
«Tenho clientes diversos. Há curiosamente uma geração nova com 30 a 35 anos que gosta de ter os seus fatos por medida. Tenho também muitos clientes de Angola. Neste caso, por exemplo, já tenho os moldes previamente feitos. Muitas vezes os clientes ligam e dizem: ‘quero um fato desta e da outra forma’. Estou aí no dia X. E eu faço. Quando eles chegam é experimentar, acertar pormenores e levar».

A confecção de fatos por medida, à distância, é possível porque Francisco tem moldes de todos os clientes. «Quando o cliente aqui vem pela primeira vez tiro, com uma fita métrica, as medidas de peito, anca, ombros, altura, tudo. Depois faço moldes em tecido». Este método de trabalho possibilita que o cliente faça encomendas. «E depois se aparecer aqui um cliente com medidas semelhantes é mais rápido, porque, cá está, o segredo vem depois na prova», acrescenta.
Hoje, Francisco conta com a ajuda de três costureiras, que alternam entre si. «Já ninguém procura o ofício. Isto é artesanal e demora a aprender», confessa.

Em média um cliente compra quatro a cinco fatos por ano, feitos com o preceito de mãos portuguesas que trabalham tecidos estrangeiros, sobretudo italianos. «Repare, uma pessoa vem aqui e paga a mão-de-obra que claro não é barata porque tudo isto é artesanal, não vai agora empregar o dinheiro numa fazenda ruim e as portuguesas estão muito más», remata o alfaiate.
As fibras não entram nesta casa. Francisco diz que «trabalha lã com caxemira, seda». A última tarefa na alfaiataria é o passar a ferro. Neste ponto, Francisco Brito mantém igualmente as tradições. O ferro é aquecido com carvão, «porque deixa o fato muito melhor», confessa. 


 Sara Pelicano
 Café Portugal

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Ensino


Após alguns anos de estagnação no ensino da Alfaiataria, surgiu a oportunidade de darmos um curso prático de ponto e prova de alfaiate a convite da Escola de Moda do Porto (GUDI). Com esta iniciativa pretendemos não só formar jovens e profissionais da área de moda, em manualidades quase extintas no nosso pais, como também dar nova vida ao trabalho por medida, através do ensino da arte que celebramos todos os dias. Nesta apresentação fica o convite a que se juntem a nós, num movimento ao qual daremos certamente nova dimensão tanto em Portugal como no exterior. As inscrições já estão abertas e terá inicio dia 5 de Novembro de 2011. O custo mensal é de €150 com a duração de 6 meses. Para inscrições e mais informações podem contactar das seguintes formas:
. Ayres Gonçalo - +351 914 471 671
. Paulo Rodrigues - +351 916 774 287
. labdisartoria@gmail.com


terça-feira, 4 de outubro de 2011

Homenagem




Não posso prestar uma homenagem pública ao meu mestre por tudo o que ele me ensinou, posso no entanto continuar por muitos anos a sua linha, o seu preceito, a sua arte. Vou sentir muito a sua falta Sr. Fernando Gonçalves.

João Paulo Rodrigues

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Em tempos modernos ainda existe tradição



Longe vão os tempos em que ir ao alfaiate era um hábito comum a todos os homens, que procuravam nestes artistas verdadeiras obras de arte que se adaptassem na perfeição ao seu corpo. Para os mais novos, a geração dos centros comerciais e das grandes superfícies, este tema pode causar algum espanto mas acima de tudo uma dúvida: ainda existem alfaiates? A resposta é sim, existem! São mais escassos que antigamente e muitos vêem os seus negócios ameaçados pela indústria comercial e pelas novas tecnologias de corte e costura que se desenvolveram e continuam a desenvolver, mas alguns sobrevivem, principalmente em Lisboa e no Porto.
A alfaiataria nasceu no Renascimento, quando a roupa deixou de ter como única função esconder o corpo para passar a dar destaque aos seus contornos. Foi nesta altura que ganharam importância os mestres alfaiates.
O i encontrou alguns daqueles que resistiram ao fabrico de roupa em série e fornecem ao seu cliente um produto personalizado, adaptado ao seu estilo e ao seu corpo. Procurado essencialmente por homens de classe média-alta, o fato - calças e blazer - continua a ser a peça mais pedida. No entanto, a maior parte dos alfaiates tem maior oferta que antigamente. Camisas, gravatas e até sapatos fazem parte daquilo que têm à disposição das pessoas que os procuram.
Apesar de, por tradição, ser uma arte geralmente mais procurada por homens, alguns alfaiates também oferecem roupas para mulheres e crianças. Há ainda quem faça fardas, trajes e bordados a pedido do cliente.
Talvez por ser um serviço personalizado e por a maior parte das casas utilizar tecidos de primeira qualidade, o serviço destes profissionais não sai barato, podendo os preços chegar aos milhares de euros. Também por essa razão as pessoas que os procuram são sobretudo homens de famílias ricas e importantes, políticos e empresários com os mais altos cargos.
Se é uma pessoa que gosta de tradição e ainda não se rendeu totalmente à moda em série, se gosta de serviços personalizado e de qualidade, siga os conselhos do i e contacte uma destas casas. Com certeza não se vai arrepender.



1 A. GONÇALVES ALFAIATES
 Onde: Porto. Rua Galeria de Paris
Características: Estabelecida no Porto desde 1973, aposta numa confecção 100% natural.
Tem como objectivo conservar uma cultura de bom gosto, perfeição e respeito pela tradição.

2 AVELINO e CARLOS FERREIRA
 Onde: Viseu. Av. Emídio Navarro
Características: Trabalham há cerca de 50 anos, utilizando as técnicas mais avançadas e tecidos de alta qualidade. É o cliente que escolhe o tecido e determina o estilo.

3 ROSA & TEIXEIRA
 Onde: Lisboa. Av. da Liberdade
Características: Uma das casas mais antigas de Lisboa, tem acompanhado a evolução da moda sem perder a sua personalidade particular. Confecção conhecida e valorizada internacionalmente.

4 ALEXANDRE ALFAIATE
 Onde: Porto. Praça Coronel Pacheco
Características: Casa que conta já com 80 anos. Clientes maioritariamente de classe média-alta. Cada fato ronda os 900 euros.

5 NUNES CORREA
 Onde: Lisboa. Rua Augusta
Características: Fundada em 1856. Oferece produtos a preços acessíveis e competitivos. Também produz sapatos.

6 ALFAIATARIA RIBATEJO
Onde: Santarém. Rua Alexandre Herculano
Características: Desde 1950 que procura distinguir-se pela oferta de produtos de grande qualidade. Faz fardamentos, trajes, fatos por medida e bordados.

7 AUGUSTO SALDANHA
Onde: Porto. Rua Trindade Coelho
Características: Alfaiate há 45  anos, veste clientes de classe média-alta. É ele que faz os fatos de Paulo Portas.



Joana Refoios Martins
In Jornal I

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O alfaiate



 Um dos últimos trabalhos do italiano Giovanni Battista Moroni (1520/4 - 1579), Il Tagliapanni foi pintado entre 1565 e 1570 e é, na minha opinião, uma das joias do acervo da National Gallery. A beleza do modelo fica ainda mais marcante pela posição da cabeça e pelo jeito como ele encara o espectador. Nunca tinha ouvido falar em Moroni até dar de cara com essa tela em um dos passeios pelo museu. Um gênio do retrato.

Fonte:  blog SpaceMelato


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

34° Congresso Mundial de Mestres Alfaiates



  "34 º Congresso Mundial 
       de Mestre Alfaiates"
 

De 5 a 09 de Agosto de 2011, Roma  torna-se a Capital da Alfaiataria Mundial. Os mestres alfaiates de todo o mundo reúnem-se em Roma para o seu Congresso Mundial, que desde 1910 se realiza a cada dois anos em diferentes cidades ao redor do mundo, unidos na sua diversidade, adaptando uma história rica.
Roma e Itália respondem plenamente a essas características, com milhares de oficinas de costura espalhadas por todo o país, cuja capital é o coração, batendo por causa de maior representação da sua história, grande prestígio adquirido e presença nas mais importantes instituições sectoriais.

Congresso, que também coincide com a presidência da Federação Mundial de mestres alfaiates confiada ao italiano Mario Napolitano.
A comissão organizadora do Congresso é formada pela Federmoda CNA, pela Academia Nacional de Alfaiates e Costureiras e Federação
Mundial de Mestres Alfaiates, que representa  a excelência da Alfaiataria e têm como primeiro dever  proteger e transmitir este antigo e nobre ofício para as gerações futuras.
O 34 º Congresso Mundial de Alfaiates Mestre tem uma agenda muito exigente. As autoridades máximas nacionais e locais estarão presentes para dar as boas-vindas mais de 400 mestres alfaiates, que chegarão a Roma, de todo o mundo. Estes países já confirmaram sua participação: Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Japão, Malásia, Países Baixos, Portugal, Suécia, Suíça, Tailândia. 


1910-2010: História do Congresso Mundial de Mestres Alfaiates 

 
O Congresso Mundial de Mestres Alfaiates  é um evento de prestígio que ocorre com a participação activa dos alfaiates, artesãos de todo o mundo.
A sua primeira edição teve lugar em Bruxelas, em 1910, com a participação de 250 mestres alfaiates de  15 países diferentes. Durante o congresso foi criado o Comité Executivo da Federação Internacional de  Mestres Alfaiates, presidido pelo seu fundador, Jacques Frickx, presidente eleito da Federação, e é estabelecida a cadência de dois anos para cada Congresso; no entanto, nos primeiros anos não foi cumprida por causa da  1ª Guerra Mundial e a recessão económica geral que resultou.
As nomeações
seguintes foram Paris em 1937, com a presença de centenas de alfaiates em Zurique em 1939 e Londres em 1950, onde ocorreu o 4º Congresso Mundial de Mestres Alfaiates. A partir desse momento, o Congresso continuou seu caminho seguindo a bienal estabelecida durante o seu primeiro ano, recolhendo sempre mais sucesso e mantendo um papel fundamental no panorama de eventos envolvendo o mundo da alfaiataria.
Durante  a realização, as belas cidades que já sediaram o Congresso tornaram-se a ocasião para a encruzilhada de moda e cultura, proporcionando um magnífico pano de fundo para a pista onde foi possível admirar as criações de alfaiataria de elevada categoria, criações únicas, feitas por mestres alfaiates de vários países, cada um com a sua cultura, unidos na sua diversidade a partir de uma das mais antigas profissões do mundo. 


Gabinete de Imprensa para a comissão organizadora:  

Flavia Salinetto para Roma srl tel. 339.4838869  e-mail: @ flavia.salinetti inwind.it  
Francesco Caruso Litrico tel. 3334682892 e-mail: fralit@alice.it
Congresso website: www.wfmt2011.org
Organização do Congresso Roma Srl, Via Cicerone 49-00193 Roma  

Tel Fax 06.96526644 06.97255730
E-mail: romae@ferrettistudio.com

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Ayres Gonçalo – Nova Iorque

O sonho de se tornar um grande alfaiate levou-o a trocar o Porto por Madrid, mas foi em Londres que aprimorou a sua arte e passou a integrar o restrito clube dos que ostentam o selo de qualidade de Savile Row. Agora está em Nova Iorque, mas já ganhou o mundo. 

Muitos e-mails depois – e ainda com os fusos horários trocados –, esta entrevista realizou-se durante uma breve passagem de Ayres Gonçalo por Portugal, em trânsito entre os Estados Unidos, onde vive desde finais de 2010, e Hong Kong. Ayres, que faz questão de colocar o sobrenome à frente do nome próprio, pertence à terceira geração de alfaiates de uma família do Porto com tradição e reputação na matéria. O interesse “pelos trapos”, mesmo que tenha sonhado a certa altura com ser jogador de futebol ou piloto de Fórmula 1, chegou-lhe cedo. Aos 16 anos, depois das aulas, já ajudava o avô com as provas e as vendas: “Aprendi com o meu avô toda a parte teórica de alfaiataria. Ainda hoje, e apesar dos seus 82 anos, lhe ligo quando tenho dúvidas”. Foi também com essa idade, 16 anos, que recebeu as primeiras encomendas dos seus amigos.
Chegado à idade adulta, e mais do que certo da sua opção de vida, sentiu necessidade de ir além na sua arte e perseguiu o sonho em Madrid. Foi, todavia, em Savile Row, a rua londrina onde se alinham as mais prestigiadas casas de alta alfaiataria do mundo, que ganhou técnica e conhecimentos para voar mais alto. Ser finalista do concurso Golden Shears, em 2008, ou ter feito um fato para o príncipe Carlos deu-lhe visibilidade, mas é o diploma da Savile Row Bespoke Association que o coloca entre a fina flor dos alfaiates, que, doravante, lhe vai servir de passaporte no mundo.

UP – Quando é que sentiu a necessidade de deixar o Porto e ganhar o mundo?
AG – Por volta dos 21 anos comecei a sentir que necessitava de aprender mais. Só conhecia a técnica do meu avô e queria muito conhecer outros alfaiates e outros estilos. Resolvi ir estudar alfaiataria em Madrid, na Escuela Superior de Sastreria da Sociedad de Sastres de España. Ali tirei o meu curso de corte e, ao mesmo tempo, trabalhava no mais prestigiado alfaiate espanhol (Pedro Muñoz), na Calle Serrano. Em Madrid, ouvi falar de Savile Row, e a partir desse momento não descansei enquanto não vi com os meus próprios olhos a realidade da rua mais prestigiante do mundo quando se fala de fatos por medida. Uma vez na capital britânica, a Gieves and Hawkes deu-me a possibilidade de trabalhar três meses à experiência. Aos 24 anos estava a trabalhar com a melhor equipa de alfaiates do mundo e demorei a acordar para a realidade. Nos primeiros tempos, nem queria acreditar que os fatos feitos por mim eram vendidos ao cliente por um mínimo de £3600 (cerca de €4170)!
UP – Savile Row ainda é “a” escola?
AG – Além de ter tido a oportunidade de trabalhar na Gieves and Hawkes, tive a sorte de ter o melhor de todos os mestres — foi o mesmo do Alexander McQueen. Aprendi uma técnica mais exigente e detalhada, uma técnica fabulosa que vou aplicar para o resto da vida! Definitivamente Savile Row é o sonho para qualquer jovem que pretenda ser alfaiate.
UP – O que é isso de ser alfaiate nos dias de hoje, em que tudo parece girar à volta dos designers e das marcas?
AG – É algo de extraordinário, mas é uma arte em vias de extinção. E é pena. Talvez porque o mediatismo de um designer de moda é muito maior do que o do alfaiate… Já o meu mestre dizia “toda a gente quer ser famosa”, mas o que os jovens designers não sabem é que é muito mais cool ser alfaiate (risos)!
UP – O fato que fez para o príncipe Carlos trouxe-lhe notoriedade, ou não?
AG – Sou apreciador dos fatos assertoados. O príncipe Charles também. Recordo que quando o recebemos no ateliê da Gieves and Hawkes, eu tremi descontroladamente durante uma hora! Sempre sonhei em fazer-lhe um fato, mas, sinceramente, nunca pensei que tal pudesse acontecer. Quando um dia de manhã cheguei ao ateliê e em cima da minha mesa estava um fato para ser executado com o nome do príncipe Charles, saí do atelier para cair na real e só regressei no dia seguinte. Tinha, na altura, acabado de fazer 28 anos.
UP – É maior a pressão quando se faz um fato para alguém tão conhecido?
AG – Não tem a ver com a fama do cliente. Dá-me maior gozo trabalhar para alguém que dê o devido valor a um fato feito inteiramente à mão; a um fato feito com amor. O príncipe Charles, independentemente de ser príncipe, é uma pessoa que dá valor à arte de alfaiataria. O Lapo Elkaan ou o Luca Rubinacci são outros dois exemplos – não foi por acaso que o Tom Ford considerou Lapo Elkaan “The most stylish man in the world”.
UP – É uma questão de estilo ou de moda?
AG – Não sigo as tendências de moda, para ser sincero. Nem sei o que está na moda. A moda de Londres é uma, a de São Paulo, de Milão, de Tóquio ou de Nova Iorque são outras. Sigo estilo, observo quem tem estilo. Alguém disse um dia: “Há gente que veste Prada e parece que vai de Zara e há gente que veste Zara e parece que vai de Prada”. Aplico estilo no meu trabalho.
UP – Quem é hoje o cliente que vai ao alfaiate?
AG – São homens e mulheres (também há mulheres que vão ao alfaiate fazer blazers) das classes alta e média-alta. Pessoas que foram educadas pelos pais a ir ao alfaiate, a dar valor ao fato feito pelo alfaiate. Em Nova Iorque, na loja onde trabalho, temos muitos clientes jovens, o que revela uma mudança curiosa de hábitos num país que não possui uma tradição de alfaiataria.
UP – E porquê trocar a tradição e prestígio de Savile Row por Nova Iorque?
AG – Fiquei quatro anos em Savile Row, mas em finais de 2010, aos 29 anos, surgiu a oportunidade de mudar para Nova Iorque e não pensei duas vezes. Vim descobrir um mundo novo, uma cidade nova e não estou arrependido. Tenho saudades de Savile Row e de todos os colegas e amigos que deixei para trás, mas o sonho comanda a vida e em Londres já não estava a sonhar… Além disso, estava a precisar de ver um pouco de sol!

por João Miguel Simões
UP Magazine da TAP.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Loja de sanduíches vai substituir alfaiataria Piccadilly no Chiado



Proprietários de casa quase centenária passam a atender clientes em atelier a poucos metros do antigo espaço 

 A antiga alfaiataria Piccadilly, no Chiado, em Lisboa, fechou as portas há cerca de um mês, e vai ser substituída por uma loja de uma cadeia de sanduíches.
Constrangimentos financeiros levaram os proprietários a aceitar a indemnização proposta pelo senhorio, um fundo imobiliário do banco Millenium, para se irem embora. A loja encerrou, mas o negócio continua por perto: com menos de metade dos empregados, a Piccadilly atende agora a clientela num primeiro andar da Rua Anchieta, situado no mesmo prédio da livraria Bertrand, onde a alfaiataria funcionou desde 1924.


"O senhorio foi-nos pressionando para sairmos, alegando que precisava do espaço para colocar um elevador para o condomínio de habitação que está a ser instalado nos andares de cima. E também para abrir um hall de entrada para o prédio", conta uma das proprietárias da Piccadilly, Teresa Mendonça. "Infelizmente, afinal o que vai para lá é uma Companhia das Sandes". Uma publicação da Câmara de Lisboa dedicada aos estabelecimentos históricos da capital conta que a Piccadilly vestiu membros de governos de vários cantos do mundo: "Aprumou políticos, diplomatas e artistas e teve acesso a alguns segredos de Estado".
O escritor Aquilino Ribeiro, por exemplo, era aqui conhecido por ter os bolsos sempre deformados, pelo excesso de coisas que metia lá dentro. Mário Soares e Jorge Sampaio também estiveram entre os clientes da casa, que hoje cobra entre 1800 e 2000 euros por um fato. Se é caro? "Já inclui limpeza a seco e passagem a ferro durante todo o período de vida da peça", frisa Teresa Mendonça. "E há pessoas que continuam com o fato impecável 20 anos depois de ele ter sido confeccionado à mão".
O corte da alfaiataria, clássico, distingue-se pelo estilo inglês, justo ao corpo. "A nossa principal clientela pertence à aristocracia", descreve a proprietária.
Muito do mobiliário de madeira da loja foi levado para o atelier da Rua Anchieta, tal como a grande placa preta com letras douradas com o seu nome. "A antiga loja tem uns tectos lindíssimos em abóbada. Não sei o que lhes vai acontecer", refere Teresa Mendonça.

Ana Henriques
In Publico

sábado, 4 de junho de 2011

Uma centena de Mestres Alfaiates em Mangualde



No passado Domingo (29 de Maio), Mangualde foi a cidade anfitriã do XXII Encontro Nacional de Mestres Alfaiates. No encontro participaram uma centena de mestres, oriundos de todo o país, que foram recebidos pelo Presidente da Autarquia Mangualdense, João Azevedo, pelas 9h00, no Salão Nobre. O evento foi organizado pela Comissão de Alfaiates de Mangualde, com o apoio da Câmara Municipal de Mangualde.
Para o edil mangualdense, este «foi um momento importante para o concelho e foi com muito orgulho que Mangualde foi eleito para a realização deste encontro anual». É importante «não deixar esta arte morrer, é fundamental valorizar a mão-de-obra portuguesa e todos aqueles que lutam diariamente por manter viva esta arte. O nosso tecido produtivo precisa desta qualidade e destes profissionais», sublinhou ainda João Azevedo.
Pelas 10h30 teve lugar uma visita à Adega de Mangualde e pelas 12h30, na Igreja Matriz, realizou-se a Missa Solene pelo Senhor Cónego Seixas. O almoço comemorativo decorreu pelas 14h00, no Restaurante Casa do Ermitão, e contou com a actuação da Tuna de Santiago de Cassurrães e do Rancho Folclórico da Associação Mangualde de Azurara. O encerramento, com entrega de diplomas, realizou-se pelas 18h00.
Foi um momento de confraternização e de troca de experiências, que se realiza anualmente numa região diferente e conta com a presença de profissionais oriundos de todo o país.

Autor: ViseuMais

sábado, 28 de maio de 2011

Os alfaiates do Porto ainda cortam na casaca



Coser, entretelar ou enchumaçar ainda são termos comuns na Invicta. Se acha que a alfaiataria já deu o que tinha a dar, continue a ler este artigo. Alexandre Ferreira, Victor Gonçalves e Augusto Saldanha são o exemplo vivo de que a arte ainda vive. A Praça esteve à conversa com estes 3 alfaiates portuenses e descobriu que há mesmo quem não prescinda dos seus serviços.

 Alexandre tem 77 anos.
Alexandre Alfaiate
A Alexandre Alfaiate já faz história na Praça Coronel Pacheco há 80 anos, mas só desde 1962 é que pertence a Alexandre Ferreira. O rapazito que aprendeu a dar os primeiros pontos numa alfaiataria da vila de Mesão Frio aventurou-se com 13 anos na Invicta e acabou por herdar, anos mais tarde e por algumas patacas, o negócio do patrão.
A vida “mudou sempre para melhor” e, hoje, Alexandre, com 77 anos, tem clientes de classe média-alta que já são amigos e que, como não sentem a crise, continuam a bater-lhe à porta.
Com fatos acima dos 900 euros, não é qualquer um que tem um smoking com a etiqueta do Alexandre. “Estou agora a fazer um fato que vai chegar aos 3.500 euros, em pura caxemira. É para uma pessoa muito conceituada cá no Porto”. E o preço nem é assim esticado porque o fato dura muito, mas “o toque é maravilhoso”, explica Alexandre.
“Isto não é como a confecção em que é sempre a mesma coisa e as máquinas é que fazem tudo… é muito difícil”, realça o alfaiate.
E a verdade é que para além do toque ou da forma como “a obra assenta no corpo”, a verdade é que os alfaiates respeitam os tecidos. Não havendo colagem da tela interior, como nas confecções, o fato mantém as condições de ventilação.

 Augusto Saldanha é o alfaiate da Rua Trindade Coelho. 
Augusto Saldanha
A oficina de Augusto Saldanha esconde-se num primeiro andar aconchegado da Rua Trindade Coelho. Com 60 anos, Saldanha, como é conhecido, é alfaiate há 45.
Aprendeu com o irmão o que tinha para aprender, mas foi no Porto que se tornou artista e se apaixonou pela arte. Dos clientes de classe média-baixa passou para os clientes da média-alta e agora sente-se realizado. “Tenho clientes que vestem o meu fato como uma peça de arte”, conta.
Veste os Pessanha, os Sotto-Mayor, os Portela e outras figuras da cidade, mas o que o deixa verdadeiramente orgulhoso é Paulo Portas, que apelida de “seu manequim”.Saldanha não fala em preços, mas diz que só não sente a crise porque mudou a clientela. “O meu cliente antigo não tem poder de compra. Hoje, um caixa de um banco não pode fazer aqui um fato, não tem possibilidades económicas”.
Para Saldanha, os clientes são amigos que fazem do seu gabinete de provas “um confessionário”, afirma.


A. Gonçalves
Alfaiate há 42 anos, estabeleceu-se na antiga oficina do pai, na Rua Galeria de Paris, e foi ganhando os seus próprios clientes, também oriundos da classe média-alta. Mas Victor Gonçalves não veste amigos. “A relação com os clientes é uma relação profissional. Muitas vezes, roça a amizade, da parte deles para mim”, afirma. E a consideração que eles têm com este alfaiate, é das coisas que mais o orgulha.
Na A. Gonçalves, já  lhe pediram de tudo, desde “um vermelho muito vivo” a casacos com os bolsos para trás, com capuz de frade ou com um chapéu de pescador. Os clientes, às vezes, “obrigam a inventar um bocadinho”, o que não seria possível numa confecção artesanal.
Mas qualquer fato, mais estranho ou mais comum, leva a sua marca. “Todos nós podemos fazer a mesma coisa, que nunca será igual. A marca fundamental que fica menos perceptível é o estilo de cada um”.
E Victor é o único dos 3 alfaiates que diz sentir a crise. “Comparando o que fizemos em outras alturas com o momento actual, sim. Os clientes não desapareceram, mas se antes fazia 6 calças por estação, agora faz 3″.

E afinal, que futuro para o alfaiate?
Saldanha acredita que “o alfaiate nunca vai acabar. Acabaram muitos e os bons ficaram” mas Victor já não é tão optimista.
Só há 2 coisas que estes 3 alfaiates têm em comum: têm todos muito trabalho e nenhum deles tem a quem passar o testemunho. Um facto incompreensível, porque a arte parece ser cada vez mais procurada por jovens e, como diz o senhor Saldanha, actualmente, “é o filho que traz o pai”.
Em altura de crise económica, o investimento seria favorável. Fica o conselho, para não deixar morrer a arte – e a oportunidade.

 Outras alfaiatarias
  • Alfaiataria Santos
Rua de José Falcão, 80, 4050 – Porto. Tel.: 222 052 410. ‎
  • Aires Carneiro Silva
Rua Anselmo Braanc 48,4º-D, 4000 – Porto. Tel.: 225 360 001. ‎
  • Rosa&Teixeira SA
Avenida Boavista 3523 – loja 1, 4100-139 Porto. Tel.: 220 440 845.
  • Alfaiataria Queiroga
Rua Bonjardim 1133, 1º-E, 4000-133 Porto. Tel.: 225 505 441.
  • Alfaiataria Saldanha Lda
Rua 31 Janeiro 63,1º, 4000-543 Porto. Tel.: 222 008 823.

In Porto 24
Por Liliana Pinho
Fotos: Liliana Pinho

sexta-feira, 20 de maio de 2011

UM GUARDA-ROUPA FEITO À MÃO GUARDADO NO BAÚ DA MEMÓRIA

São idos os tempos que em Portugal, nem sempre pelas melhores razões, mas sempre com o melhor dos resultados que com apenas necessidade e engenho se manufacturava em contexto doméstico todo o vestuário do homem e da mulher portugueses. A reutilização e a transformação quase mágica de peças de vestuário em outras vestes, acessórios de roupa e elementos de decoração do lar, dá-nos uma larga experiência na arte de produção de roupa e afins, com as mais variadas técnicas de construção e materiais utilizados.
A manufactura de peças de vestuário demarca-se do contexto doméstico quanto mais exigente for o corte ou
manuseamento dos materiais. Sobretudo a roupa masculina carece em muitas situações de um mestre capaz
de talhar à medida as muitas indumentárias que enchem o guarda-roupa do homem português de novecentos. O fato e as sobrevestes de um modo geral obrigam a um grande apuramento do corte de acordo com o corpo a vestir (estima-se que um fato leve 35000 pontos manuais) (1), assim como algum trajes regionais obrigam a um grande esforço no manuseamento dos materiais, como parece ser o caso da Capa d‘Honras de Miranda do Douro, uma veste de agasalho que, por levar tanto pano para a sua confecção, defende-se a ideia que será mais fácil aos alfaiates o seu manuseamento, por serem homens, usando técnicas, métodos e utensílios próprios.
Para melhor responder a estas exigências e apurar o desenho das muitas indumentárias que preenchem o guarda-roupa masculino do séc. XX, é necessário facilitar os meios de transmissão de conhecimentos da arte, através de estruturas de ensino que possam dar a conhecer os métodos e técnicas específicas da alfaiataria usadas no país e no estrangeiro.

Alfaiataria em Portugal
Escolas de corte de vestuário masculino do século vinte

Se à alfaiataria diz respeito a manufactura de roupa masculina, isto não significa que seja toda a roupa masculina. Longe das grandes cidades, um alfaiate bastava para dar conta das encomendas de fatos dos homens de várias freguesias. Os trabalhadores rurais usavam raramente fato, alguns, os menos pobres, usavam o fato em situações muito formais como a ida às sortes ou as cerimónias sacramentais. As roupas do dia-a-dia destes trabalhadores eram manufacturadas desde as camisas e toda a roupa interior até às vestes de fora, calças, sobretudo, pelas mulheres da casa. Mais, as meias coloridas, feitas à mão com quatro ou cinco agulhas e outros atavios ou acessórios indispensáveis para levar o dia como o saquinho das moedas, do relógio ou do farnel, e o lenço de mão eram laborados pelas mulheres da casa.
Na maioria dos casos, porque o ofício de alfaiate garantia um emprego “debaixo de telha”, as famílias colocavam o filho mais novo em oficinas de alfaiates, as crianças eram assim iniciadas na arte ainda antes dos dez anos de idade. Ao serviço dos mestres desempenhavam a função de chegamiço (2) e permaneciam na oficina quase uma década até terem a responsabilidade de cortar e exercerem a função de contra-mestres.
Muitos alfaiates do interior do país faziam serviço ao domicílio, deslocavam-se a casa dos senhores para tirar as medidas e fazer provas, passando lá o dia de trabalho em troca de dinheiro e comida. O ensino de manufactura de roupa masculina no séc. XX era ministrado inicialmente pelos sindicatos dos profissionais de alfaiates de Lisboa e Porto. Mas foi na década de trinta que se implementaram, nestas duas cidades, os organismos mais relevantes de ensino da arte de alfaiataria do país: A Academia de Corte Sistema Maguidal e a Academia Nacional de Corte, em Lisboa, e o Instituto Superior de Corte, no Porto. A Academia de Corte Sistema Maguidal, fundada em 1934 por Manuel Guilherme de Almeida, sobressai-se pelo método inovador de corte que implementou no ensino e para o qual editou um manual de corte designado Método de Corte Sistema Maguidal, que resultou de um método desenvolvido pelo mestre Maia (Augusto da Silva Paulet Maia), professor da arte na antiga Associação Fraternal da Classe dos Operários de Lisboa até 1917. O método consistia em obter as principais fracções proporcionais na intersecção e triangulação do quadrado formado pela medida de peito, o que tornava os traçados mais simples que os estrangeiros. Manuel Guilherme de Almeida sustentou o estudo com a elaboração de uma base geométrica a que chamou “Sistema Maguidal”, usando as primeiras letras dos seus nomes, a partir da qual se encontrou seis fracções da medida de peito e a adaptou a todas as peças de vestuário que integram o manual.
 A Academia Maguidal editou durante 35 anos a Revista Vestir, uma revista de técnica e Moda para alfaiates, tendo sido cedida a patente em 1987 ao CIVEC – Centro de Formação Profissional da Indústria de Vestuário e Confecção.
A Academia Nacional de Corte, em Lisboa, foi fundada por António Mendes Baptista, também fundador e proprietário de um outro periódico da área, a Revista Técnica de alfaiataria, com artigos especializados na arte da alfaiataria, com métodos e traçados de corte de roupa masculina.
O Instituto Superior de Corte foi fundado em 1939, por João Lázaro, no Porto, que aí ensinou o ofício de cortar roupa por medida com base numa forma de cálculo das proporções assente no princípio geométrico, que facilitava a obtenção da medida da cava. Desde sempre interessado no apuramento de um aparelho de medição que ajude na obtenção do desenho da cava em função da medida do indivíduo inventou alguns aparelhos de medição, como a couraça antropométrica, que por ser um instrumento caro o obrigou a pensar num outro, o cavímetro. Ainda a este propósito faz referência no seu tratado à graduantropometria, um sistema de medição desta vez da autoria de Henrique A. Garcia alfaiate de Tomar.
Os cursos ministrados nas escolas de corte tinham a duração variável, dependendo do grau de especialização ou dos cursos, havendo mesmo cursos por correspondência, para os alfaiates do interior do país. Mas todos abordavam disciplinas como, a matemática, a antropometria, a geometria e a planimetria, a miologia e a osteologia a anatomia e a fisiologia.
A alfaiataria, que é durante os três primeiros quartéis do séc. XX um ofício de grande reconhecimento, decai até quase à extinção de grande parte das peças de vestuário que aqui se mencionam, restando a confecção de fatos, essencialmente, sobretudos, trajo professoral e trajo magistral.
As escolas de corte de roupa masculina fecham por falta de procura de clientes nas alfaiatarias, mas também por falta de alunos que queiram aprender o ofício.
Se o ofício de alfaiate é, nos dias de hoje, uma prática quase extinta, como se sabe, é maior o risco de extinção nas regiões do interior do país e no Alentejo. São aí muitos os ex-alfaiates que recordam com saudade a época em que eram procurados para talharem à feição. E são alguns os que, para matar saudades do antigo ofício, se dedicam à construção de miniaturas de peças de vestuário, iguais às que antes confeccionavam à escala humana.
De forma a e perpetuar a memória de uma prática (quase) extinta, bem como das suas técnicas e instrumentos, a autora e coordenadora do projecto Diana Regal, pela Colecção B, Associação Cultural, com a parceria financeira da ANIVEC/APIV e com a parceria científica do Museu Nacional do Traje, encontra-se em trabalho de concretização de A tesoura de Emmanuel Kant – Indumentárias da alfaiataria portuguesa.
A tesoura de Emmanuel Kant – Indumentárias da alfaiataria portuguesa propõe-se como projecto de investigação de campo centrado na alfaiataria, como método artesanal de produção de roupa masculina por medida, do século vinte, dos grandes centros urbanos do país, Lisboa e Porto, e das regiões rurais, como o Alentejo, o Ribatejo e a Serra da Estrela.
O projecto traduz-se na edição de um livro sobre a alfaiataria em Portugal, homenageando a arte e os seus mestres com identificação das peças de vestuário de alfaiate, usadas nos três primeiros quartéis do século XX, e numa exposição de 35 indumentárias a 1/3 da escala humana, que melhor representam o guarda-roupa do homem português desta época, com realização prevista para Outubro do presente ano. A exposição conta com a consultoria técnica do mestre alfaiate Armindo Bártolo e com o alfaiate João Virgílio, para a realização das indumentárias em miniatura.Conta ainda com participações escritas no livro de vários investigadores da área e com a colaboração de inúmeros alfaiates.
O projecto teve já uma mostra de traje masculino do Alentejo, que reuniu 18 indumentárias em miniatura de trajo masculino das regiões do Alentejo e Ribatejo, realizadas pelo alfaiate alentejano João Virgílio.
A exposição esteve patente ao público de 6 a 30 de Maio, na sede da Fundação Alentejo-Terra Mãe,
em Évora.Um projecto Colecção B, em parceria com a ANIVEC/APIV e o Museu Nacional do Traje.

(1) - Armindo Bártolo, mestre alfaiate de Lisboa.
(2) - Termo usado para designar o aprendiz que se inicia na arte com a função de
chegar os utensílios ao mestre, sob a ordem: chega-me isso! 




Revista Vestir nº 62
CIVEC

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

ALFAIATES, ALFAIATARIAS E CAMISARIAS DA BAIXA E DO CHIADO - II




Brito Alfaiate - Francisco Sabino Brito
R. D. Antão de Almada 3, 3º e Praça D. Pedro IV 93, 3º
Tel. 21 346 30 17
O actual proprietário entrou como aprendiz por volta de 1960, tendo em 14/4/1974 adquirido o estabelecimento ao seu anterior proprietário, o Sr. Manuel Pina. A oficina, cuja janela tem vista para o Rossio fez com que no dia 25/4/1974 fosse disputada por jornalistas e curiosos para a obtenção de imagens. “Desta janela já foram filmadas várias películas cinematográficas”.



Ernesto Martins, Lda.
R. da Conceição 107, 1º
Tel. 21 346 32 61
Fundado em 1940 por Ernesto Martins, a partir de 1993 passou para José Augusto, seu actual dono. Com mobiliário de madeira, instrumentos que memorizam a história desta profissão, aqui fazem-se unicamente fatos de homem, fraques, smokings, fatos de montar, utilizando fazendas inglesas e italianas. Actualmente, trabalham neste espaço quatro pessoas, mas no passado, “chegaram a ser trinta”.


Fritz   Camiseiros, Lda.
R. da Assunção 42, 4º - Sala 25
Tel. 21 346 34 42
Fundado pelo Sr. Fritz, por volta dos anos 1960 transferiu-se para as mãos do Sr. José Batista dos Santos, seu actual proprietário, mestre na arte de fazer camisas, obtido através de um curso na Academia Maguidal. Especializado em fazer à mão
camisas em algodão e popeline, de origem italiana, num elevado número de padrões, podendo levar um monograma pessoal.




Loureiro & Nogueira, Lda.
R. de Santa Justa 79, 1º
Tel. 21 342 44 65
Fundada em 1930 foi adquirida em 1992 pelos seus
actuais proprietários, o Sr. João Ribeiro e esposa, que se iniciou com11 anos, como aprendiz e ainda hoje acompanha as tendências da moda. Conta actualmente com dois trabalhadores mas chegaram a trabalhar 8 pessoas. È um espaço cuidado, bem ao estilo da actividade de alfaiataria - elegante, sóbria e correcta.


Luis Pestana Alfaiates
R. da Misericórdia 33, 1º
Tel. 21 045 30 11
Fundada em 1926, aqui desde 1991, o seu actual proprietário, o Sr. Luis Pestana está ligado a esta arte desde o berço, já que seu pai, alfaiate, foi dono da Pestana e Brito, com quem iniciou a aprendizagem, depois foi para Inglaterra onde tirou o curso de alfaiate. O estabelecimento é de grande requinte e sofisticação, mobiliário de madeira, soalho coberto por uma bela carpete avermelhada, candeeiros e espelhos dando brilho ao conjunto.


Alfaiataria Nunes Corrêa
R. Augusta, 250
Tel. 213 240 930
www.nunescorrea.com
Fundada em 1856 por Jacinto Nunes Correia, oriundo de família de algibebes. Continuou nos seus descendentes até 1957, altura em que passou para Mário Leão. Hoje é o seu neto que está à frente, seguindo uma modernização que vai do fabrico de sapatos, desde c.1950, até à loja virtual, sempre a vestir bem o homem - “estilo clássico, mas sempre com um apontamento da N. Corrêa”. Em 1919 migrou da rua de S. Julião para onde está hoje, mais tarde em 1974 foi alvo da remodelação que a caracteriza - loja bem decorada, forrada a painéis de madeira, ao estilo clássico, de fachada notável e na esquina uma placa comercial emoldurada por cantaria lavrada, que acaba por resgatar o tempo em que vestiam a Família Real.


Piccadilly Ldª - Alfaiates Mercadores
R. Garrett 69 - 71
Tel. 21 342 67 21
Abriu como Vitorino, Ferreira & Almeida Lª do outro lado da rua, no nº 58-60, pela mão de Benjamim Ferreira e continuou nos herdeiros até aos anos 1980-85, altura em que passou para a
propriedade do sr. Manuel Mendonça, alfaiate da casa, e depois para os seus herdeiros. Mudou para o actual local em 1919 e em 1924 tomou o nome de Piccadilly. É o exemplo da alfaiataria inglesa em Lisboa: decoração emblemática, cartazes, tecidos,
gravatas e corte - tudo à inglesa. Da remodelação dos anos 1960, o mobiliário é em madeira, a porta da rua em madeira clara. O painel em vidro espelhado, fundo preto, letras douradas mencionam “mercadores e alfaiates”. Hoje a equipe compõem-se de 1 mestre alfaiate, Joaquim Dias, há 30 anos na casa, 2 oficiais de alfaiate e 6 costureiras de alfaiate.


Pitta - Camisaria Pitta & Cia. Lda.
R. Augusta 195 - 197
Tel. 21 342 75 26
Fundada c.1887 na R. de S. Julião por A.M.Pitta, muda para o actual local em 1903. Foi fornecedor da Casa Real e hoje do PR.
Em 1977 recria uma alfaiataria britânica, elegante e de bomgosto.
A frontaria é trabalhada em madeira, com dois colarinhos esculpidos sobre as duas portas que dão passagem para a entrada, ladeada por duas montras bem iluminadas e atraentemente expostas.


 Le Tailleur Moderne
R. Augusta, 213 -215
Tel. 21 342 24 19
“João B. Carneiro, Lda” é o nome da firma, fundada em 1907, mas
desde 1975 até hoje os proprietários são Manuel Silva e esposa. O
estabelecimento ocupa dois pisos: a loja e no piso superior o armazém,
escritório e atelier. Fácil de identificar através de tabuletas, reclamos e
uma vistosa montra, no interior, predominam as madeiras de aspecto
clássico. É também com facilidade que se admiram expostas algumas
peças que, fazem parte da história deste ramo. Presentemente, trabalham neste estabelecimento cinco pessoas. Tem sucursal na Av. Guerra Junqueiro.


© CML/GEO
Dezembro 2010

Alfaiates, Alfaiatarias e Camisarias da Baixa e Chiado - I


Mestres de alfaiataria, portadores de um “saber-fazer” que lhes confere a capacidade de transformar tecido em fatos únicos e ajustados a cada cliente. Tendencialmente, são homens com um percurso profissional longo, a maioria começou a trabalhar aos 10/11 anos, pelo que facilmente se depreende que se dedicam ao mester há mais de meia centena de anos. Evidenciam destreza no pensamento e firmeza na mão, a mão que manuseia a tesoura, o giz ou a “chonga” (tábua própria para dar forma aos casacos). Falar com estes mestres é em certa medida viajar no tempo, talvez seja mais fácil de entender se olharmos para o alfaiate como uma profissão, ou “arte” conforme assumiram unanimemente, que tem atravessado séculos. Logo, impôs-se recuarmos ao tempo das Corporações dos Ofícios Mecânicos e à instituição política e profissional que representava as várias corporações de artífices, a “Casa dos Vinte e Quatro”. Este organismo, instituído pelo Mestre de Aviz, deve o nome aos vinte e quatro homens, dois de cada ofício, com assento na Câmara. E se os “ofícios” foram mudando ao longo dos séculos, adaptando-se e ajustando-se às necessidades de uma cidade que se foi transformando. A incorporação dos Alfaiates, enquanto ofício “à cabeça da corporação”, aconteceu já na primeira metade do século XVII, embora tenha sido na segunda metade do século seguinte (1767) que a “classe” tenha renovado o protagonismo, visto que foi eleito para presidente um alfaiate - Filipe Rodrigues de Campos. No entanto foi com a reforma de 1771 que esta corporação deu provas de flexibilidade, ao ter integrado os algibebes (vendedores de fatos feitos), calceteiros (faziam calças), carapuceiros e bainheiros (faziam bainhas), estes últimos já numa reforma posterior, como ofícios “anexos”. Corporação venturosa, acalentada por dois santos: São Julião, rua onde foram “acommodados” por ordem do Conde de Oeiras,  e Nossa Senhora das Candeias - padroeira do mester
Os actuais 5 alfaiates, 3 alfaiatarias e 2 camisarias existentes sobrevivem, mais do que ao encerramento de muitas alfaiatarias, sobretudo depois de 1974, a uma mudança de costumes que se expressa no pronto-a-vestir. Mas à medida que a conversa vai correndo percebe-se que estes profissionais acabam por atribuir algumas características de ritualidade ao gesto de mandar fazer um fato.
A classe apesar de assentir que a profissão está longe do fulgor do passado, conseguiu fidelizar gerações e com alguma regularidade vão a feiras da especialidade, donde trazem novos aportes por forma a implementar um novo vigor ao sector, correspondendo assim às novas exigências do século XXI. Hoje, o cliente tanto pode chegar da esquina mais próxima, como de além fronteiras, onde o aumento de clientes angolanos e de S. Tomé e Príncipe tem vindo a ganhar expressão, conforme referiram alguns. Mas estes profissionais de trato polido estão aptos a atender desde o político, o embaixador, o gestor, o banqueiro ou o juiz, sendo que por norma o cliente tipo é de uma faixa etária mais madura e de uma classe social média-alta a alta. Em menor escala alguns jovens, geralmente os filhos dessa geração. Aliás, estes profissionais declararam que a renovação geracional tem vindo a ser benéfica e a constituir-se como um desafio, uma vez que estes clientes, igualmente exigentes na qualidade e no rigor, são tendencialmente adeptos de um modo de vestir mais informal, pelo que  têm “obrigado” alguns  alfaiates/alfaiatarias a  inovar e a (re)inventar. No entanto, e por outro lado, estes artífices não deixam de reconhecer que a linha clássica continua a ser uma constante, imprimindo assim intemporalidade à profissão, também no que concerne aos instrumentos e ferramentas não há grandes alterações a registar. Apontaram apenas o ferro que deixou de ser a carvão, para ser eléctrico e mais recentemente de caldeira a vapor. Tal como subscreveram as palavras de João Ribeiro, da Loureiro & Nogueira, quando apontou a “aptidão, paciência e habilidade, e acima de tudo, ter gosto por aquilo que se faz” como os principais requisitos à profissão.
Um parêntesis para recordar o ano de 1934, ano em que abriu a 1ª Escola de Alfaiates em Portugal, denominada Maguidal - método e técnica, que ficou baptizado pelas iniciais do nome do seu criador, o alfaiate Manuel Guilherme de Almeida. Muitos foram os que se fizeram alfaiates com os ensinamentos desta Academia de corte, não obstante outros terem ido mais longe fazer a sua especialização, nomeadamente a Inglaterra, a qual a par com Itália, continua a ocupar lugar de cimeira no que tange ao aprovisionamento da matéria-prima, em particular as fazendas.
Quanto às instalações, por norma em andar, são espaços tri-partidos constituídos pela sala de atendimento, o gabinete de provas e a oficina, onde, de um modo geral, o requinte casa com a sobriedade, num estilo clássico datado de meados do séc. XX. A terminar, assinala-se o sentimento manifestado pela classe: “há mais falta de continuadores, ou seja, de aprendizes interessados no ofício, do que de clientes”!  
  
Judite Lourenço Reis e Guilherme Pereira com a colaboração de André Guerreiro, Deolinda Lourenço, Luisa Siborro, Manuela Paias e Vítor Silvestre (ISCTE-IUL)

Um bom alfaiate

A profissão de alfaiate é das mais antigas do mundo. Desde os primórdios, esta profissão foi das mais importantes pela influência social dos que se apresentavam bem vestidos.
Os alfaiates são profissionais que desenham, cortam, costuram e melhoram as roupas. Existem os que trabalham em lojas, fazem consertos, alargam ou ajustam as peças ao corpo do cliente, ou na confecção de figurinos para espectáculos. Existem ainda alfaiates que trabalham nas linhas de indústrias de confecção. Os alfaiates tradicionais têm o seu próprio atelier, trabalham como autónomos, atendendo clientes em casa ou costurando peças por encomenda.
Para confeccionar ou consertar as roupas, os alfaiates tiram medidas ao cliente, traçam moldes e cortam o tecido segundo o molde, alinhavando depois as peças. Fazem uma prova no corpo do cliente e efectuam alguns ajustes. Por fim costuram e fazem o acabamento.
Na maioria das vezes, os alfaiates recebem o tecido e o desenho do modelo, mas podem também fazer sugestões.
Os alfaiates que são contratados por indústrias executam tarefas específicas na linha de produção. Na indústria de confecção, os alfaiates são normalmente responsáveis pela primeira adaptação das peças que entram na linha de produção em série. Já no comércio é comum o alfaiate fazer parte de uma equipa responsável pelos ajustes necessários a serem realizados nas peças de vestuário vendidas às lojas.
O mercado de trabalho para os alfaiates é bastante competitivo. A automação e a concorrência dos produtos importados de boa qualidade e baixo preço, afectam a indústria de confecções, reflectindo-se esta situação no mercado de trabalho.
Um bom alfaiate desenvolve normalmente uma clientela cativa, e são considerados consultores de moda, sugerindo e orientando os seus clientes no uso adequado de tecidos e cortes conforme a tendência de moda e características pessoais.
Algumas características mais importantes de um bom alfaiate são: boa capacidade de visão, capacidade de comunicação, habilidade manual, interesse por moda, senso estético, concentração e atenção a detalhes.
Para o exercício desta profissão não há exigência de formação profissional. Esta é uma das profissões onde a prática forma o mestre. É sempre recomendável a qualificação através de cursos e o uso de máquinas de costura e de acabamento. Alguns conhecimentos como desenho e informática são também necessários para os profissionais que optarem por trabalhar na indústria de confecção.

 Urbietorbi
Cristina Souto e Andreia Martins e Ana Gaspar e Nilce Teixeira e Eulália Garcia

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Avelino e Carlos Ferreira - Alfaiates

 Avelino Ferreira, de 66 anos, alfaiate há mais de 50 anos, encontrou no seu filho, Carlos Ferreira, de 33 anos, um parceiro de qualidade na arte de fazer fatos à medida. Carlos iniciou a profissão de alfaiate há apenas cinco anos, na altura o pai alertou que “já era tarde para aprender” ainda assim deu-lhe a possibilidade de tentar durante três meses à experiência. Hoje, Avelino Ferreira reconhece; “foi uma grande surpresa, nunca pensei que ele chegasse tão longe”. A boa relação entre pai e filho é, sem dúvida, uma “mais-valia” para a alfaiataria, até porque a faixa etária de clientes amplia;” fazemos fatos para todas as idades contudo, antes o nosso público-alvo era de meia-idade em diante, desde que o meu filho chegou estamos a conquistar os mais jovens”, enaltece Avelino Ferreira. A alfaiataria dos Ferreira orgulha-se de fazer todos os casacos “à mão”, inclusive os acabamentos o que requer “muita paciência e dedicação”. Numa altura em que a situação económica global não é, de todo, favorável, a alfaiataria não dá sinais de crise, isto deve-se ao facto de trabalharem “essencialmente para a classe média alta e alta”. O preço mínimo de um fato é de 400 euros; “o que faz disparar o preço dos fatos é o tecido, o feitio é igual para todos”, explica Carlos Ferreira. A alfaiataria confecciona 30 fatos por ano e este ano não deve fugir à regra.

Tvp
 In Jornal do Centro