terça-feira, 19 de julho de 2016

Manuel Guilherme de Almeida (1898-1992) - Resumo biográfico temático




Manuel Guilherme de Almeida nasceu a 10 de Setembro de 1898 na pequena aldeia de Janeiro de Cima, no concelho do Fundão, distrito de Castelo Branco. O pai era assalariado rural, trabalhando ao dia (jorna); a mãe cuidava da casa de xisto e da família. Manuel Guilherme de Almeida foi o primogénito entre seis irmãos. Veio para Lisboa em 1908, onde concluiu a 3.ª e a 4.ª classes.
Casou em 1923 com Alice Marques Louro. Teve três filhos: Fernando (1924-2013); Arnaldo (1926-2008); e Guilherme (n. 1950). A sua saúde começou a deteriorar-se em 1989, vindo a falecer a 11 de Novembro de 1992, com 94 anos feitos.


Vida política e sindical




Logo em 1913 inicia-se no associativismo profissional fazendo-se sócio da Associação Fraternal da Classe dos Operários Alfaiates de Lisboa, onde viria a ser membro activo e ensinaria corte.



É detido pela primeira vez em 14 de Abril de 1920, "por ordem superior": a Polícia Cívica de Lisboa prende-o "por ser conhecido agitador das classes operárias". A 13 de Setembro de 1920, é novamente preso "por andar a colar prospectos incitando o povo à greve"; libertam-no uma semana depois. Volta a ser detido a 23 de Novembro de 1920 "por fazer parte do grupo de grevistas da Classe dos Alfaiates" e "agitador". É libertado no dia seguinte.

Manuel Guilherme de Almeida, republicano convicto até à medula, milita desde 1919 nas Juventudes Comunistas, juntamente com António Monteiro (também membro da Associação de Classe dos Alfaiates de Lisboa). Tendo já aderido aos ideais do Comunismo, encontra-se, em 1921, entre os fundadores do PCP (Partido Comunista Português). Em 10 de Março de 1922 é novamente detido "por ordem superior" e preso juntamente com outros trabalhadores, no Forte de S. Julião da Barra, por envolvimento em greves.

Suspeito de envolvimento na malograda tentativa revolucionária de 26 de Agosto de 1931, que visava derrubar a Ditadura, Manuel Guilherme de Almeida é preso na própria madrugada de 26 de Agosto de 1931, em sua casa, pela Polícia Internacional Portuguesa [polícia política antecessora da PVDE e da PIDE] e levado com outros para os calabouços do Governo Civil de Lisboa. É então deportado para Timor a 2 de Setembro de 1931, a bordo do vapor Pedro Gomes, juntamente com muitos outros, de onde só regressaria em 9 de Junho de 1933.

Em Setembro de 1933, a Associação Fraternal dos Operários Alfaiates de Lisboa é encerrada e extinta pelo facto de os seus sócios terem decidido, em assembleia geral, não aderir ao nacional-sindicalismo criado pelo Estado Novo de Salazar.

Em 1934 é secretário do SVI (Socorro Vermelho Internacional) e, juntamente com a mulher, Alice Louro de Almeida, tem um papel fundamental no apoio a presos políticos e a perseguidos pela polícia política. O SVI Prestava apoio material e jurídico aos presos políticos e às suas famílias, divulgava no país e no estrangeiro notícias sobre a situação dos presos e de denúncia da repressão. Precisamente por ser Secretário do SVI, é preso em Março de 1935, julgado no Tribunal Militar Especial e mais tarde deportado, em Outubro de 1936, para o Forte de S. João Baptista, em Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira (Açores).

É levado no vapor Loanda, o mesmo em que seguiu a primeira leva de presos políticos para o Tarrafal. Esta deportação manter-se-á até ao final de 1938, chegando a Lisboa em Janeiro de 1939.



Manuel Guilherme de Almeida e Alice Louro Almeida assegurarão este apoio por mais de duas décadas. Em sua casa (então situada na Academia Maguidal, na Rua da Palma) abrigaram-se Maria Machado, António Ramos Rosa, Manuel Lourenço Neto, Diamantina Alves Vicente, Vitoriano Rosa e José Tengarrinha, entre muitos outros.

Em 1943 volta a ser detido, por seis dias, "para averiguações".

Em 1945 adere às listas do MUD. Voltaria a ser preso em 1956, na sequência de ter dado guarida à antifascista Maria Machado ((1890-1958), que tinha partido uma perna . A Academia Maguidal é cercada e revista, são apreendidos documentos, jornais e panfletos considerados "comprometedores". Manuel Guilherme de Almeida é preso, assim como quase toda a sua família (à excepção do autor destas linhas que tinha cinco anos e meio e ficou ao cuidado de uma tia paterna e de um primo). São todos acusados de "actividades contra a Segurança do Estado", nos termos do "crime do §1.º do Art.º 173 do Código Penal", segundo o mandado de captura de 13 de Abril, e enviados para o Depósito de Presos de Caxias, Reduto Norte. Maria Machado, conhecida pelo pseudónimo revolucionário de Rubina, de cuja actividade política a PIDE estava bem documentada, também é presa. Manuel Guilherme de Almeida e a sua mulher só voltarão à liberdade quase seis meses depois, a 27 de Agosto de 1956.

Em 8 de Abril de 1958, Manuel Guilherme de Almeida subscreve o pedido de admissão da candidatura do Dr. Arlindo Vicente à Presidência da República. Posteriormente, Vicente retirar-se-á da candidatura, em benefício da crescente popularidade do General Humberto Delgado. Mas o governo apressa-se a proibir a oposição de ter acesso à contagem dos votos. As eleições serão falseadas e será eleito o Almirante Américo Thomaz, candidato do regime, escolhido pela União Nacional.


Em 1963 é novamente preso pela PIDE, por ter sido utilizado uma sua máquina copiadora na produção de 11000 cópias de prospectos para o 1.º de Maio e para uma grave na Carris, em Santo Amaro. É julgado, sendo a defesa feita por Mário Soares, e acaba condenado a 18 meses de prisão, repartidos entre Caxias e o Forte de Peniche.



Esteve preso nove vezes, com duas deportações, totalizando 93 meses de prisão política. Ainda em 1973, já com Marcello Caetano como primeiro-ministro e a PIDE substituída pela DGS (Direcção-Geral de Segurança), o Boletim de Informação da DGS n.º 792600 informa, em 3 de Abril, que Manuel Guilherme de Almeida "Não oferece garantias de cooperar na realização dos fins superiores do Estado". Nesta conclusão, o Estado Novo reconhece que não o conseguiu dobrar.




Vida Profissional

Emprega-se como aprendiz de alfaiate em 1911, com 13 anos, aprendendo e aperfeiçoando sucessivamente o seu ofício. Passando pelas alfaiatarias mais conceituadas, vai ganhando conhecimento e prestígio profissional. Chega a oficial (1918), a contramestre (1923) e seguidamente a mestre. Em 1924, a Direcção da Associação Fraternal dos Operários Alfaiates de Lisboa, de que era sócio desde 1913, convida-o para leccionar as aulas de corte que aquela instituição mantinha. Manuel Guilherme de Almeida (com 26 anos) assegurará as aulas de corte até 1931, já como mestre. Em 1926 começa a desenvolver um novo método de corte, de sua autoria, inovador e eficaz. Em 1929 já é mestre técnico nas Oficinas Gerais de Fardamento do Exército. Funda a Academia de Corte, em Março de 1934, onde ensina o seu método Maguidal (acrónimo de MAnuel GUIlherme d'ALmeida. Entretanto, funda a revista Vestir, de técnica e moda para alfaiates, e seguidamente um álbum de figurinos (Moda Actual). Publica o seu livro Método de Corte Sistema Maguidal, que conheceria duas edições. Ao longo de mais de meio século, a Academia de Corte Maguidal, na Rua da Palma, n.º 219- 2.º Esq.º, em Lisboa, será uma referência e formará mais de 3500 alunos-alfaiates. Em 1944 Manuel Guilherme de Almeida está entre os fundadores da Casa de Repouso dos Alfaiates de Portugal, em Albarraque, organismo de apoio aos idosos da sua classe profissional, quando já não podem exercer.


Nas décadas de 1940 e 1950 realiza muitas conferências e palestras da sua especialidade. Na década de 1970 participa em numerosos congressos de alfaiataria.


Na década de 80, foi distinguido com diversas medalhas pelos seus pares, nacionais e estrangeiros. Foi galardoado com a medalha de prata por altos serviços em Roma, no ano de 1983. Finalmente, em Julho de 1983, foi agraciado com o grau de comendador da Ordem de Mérito Industrial, pelos serviços prestados à causa da alfaiataria nacional. O colar da Ordem foi-lhe colocado por Mário Soares (então primeiro-ministro), sendo ao tempo Ramalho Eanes presidente da República.


Trabalhou até aos 90 anos. Foi criado em sua honra o "Dia do Alfaiate" no último domingo de Maio.


Guilherme de Almeida (terceiro filho do biografado).

Casa de Repouso dos Alfaiates

É talvez este um dos melhores locais para manifestar indignação por se ter deixado falir e fechar a bela instituição «Casas De Repouso dos Alfaiates de Portugal», que vinha a funcionar desde meados da década de 1940. Uma obra meritória e exemplar.

Tantos e tantos lutaram para que esta Casa existisse, para dar apoio aos que já não podem exercer a sua Arte. Entre estes contam-se Francisco Augusto Rosa (fundador da prestigiada Rosa & Teixeira) e Manuel Guilherme de Almeida, meu pai,(1898-1992).

E agora, falida, vendida em hasta pública e tomada por quem não quer saber da Alfaiataria para nada, segue-se a expulsão dos velhotes que lá estavam, pois o enormíssimo aumento das mensalidades torna-a inacessível para todos. E estes pagaram quotas ao longo de décadas e pensavam poder viver os seus últimos dias ali, como estava estipulado.É lamentável que isto tenha acontecido. Uma vergonha.

Guilherme de Almeida

Casa de Repouso dos Alfaiates de Portugal




Idosos em risco de ir para a rua.

 Novos donos de lar pedem 1400 euros por mês aos utentes.



Mais de 60 utentes do antigo lar Casa dos Alfaiates, em Albarraque (Sintra), agora Casa de Repouso Santa Margarida, estão em risco de ir para a rua. Há também 40 trabalhadoras afetas ao lar, que cumprem o horário de trabalho à porta da instituição, enquanto esperam a intervenção da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT). A empresa Santarida adquiriu o lar em hasta pública e pediu licenciamento para assegurar "a permanência dos idosos", mas "não tem acordo com a Segurança Social nem vínculo com as trabalhadoras", explicou ao CM José Melo e Castro, proprietário da empresa. "Estão a pedir 1400 euros por mês aos idosos", contou ao CM o familiar de um utente. O empresário não confirmou valores, mas garantiu estar a "resolver a situação com as famílias". Ao CM, a Segurança Social disse estar "disponível para apoiar as famílias dos utentes na procura de soluções alternativas". Quanto à situação das funcionárias, José Melo e Castro não confirmou a denúncia de Alzira Vicente: "Propuseram-nos contrato de seis meses", contou a trabalhadora, no lar há 30 anos.

Teresa Oliveira