terça-feira, 20 de novembro de 2012

Alfaiates sobrevivem à crise, clientes pagam até 20 mil euros por fato

                                ©José Coelho/Lusa

A crise baixou as encomendas aos alfaiates do Porto, mas os fatos costurados à mão e por medida continuam a ajustar-se aos corpos de médicos, políticos, empresários, advogados, cônsules e noivos que pagam até 20 mil euros pela indumentária.

“Os nossos fatos podem ir dos dois mil euros aos 15 ou 20 mil euros”, admitiu o alfaiate português Ayres Gonçalo, que aos 30 anos já tinha costurado fatiotas para o príncipe Carlos e Gordon Brown.
Com ateliê montado há um ano na Praça Dona Filipa de Lencastre, no centro do Porto, Ayres Gonçalo rema contra a maré da crise e da Troika e assegura que as medidas de austeridade lhe passam “ao lado”, porque 90% da sua produção voa para Luanda, (Angola), Bruxelas (Bélgica), Nova Iorque (EUA) e S. Paulo (Brasil).
Ayres é neto de um dos alfaiates mais antigos do Porto, que cortou os dianteiros, os traseiros, as mangas, e a gola para o último fato de Oliveira Salazar e que em apenas seis horas executou um fato para o empresário Belmiro de Azevedo.
O avô e o neto Ayres acreditam que a arte da alfaiataria veio para ficar e não está em vias de extinção porque há aprendizes. 

A crença é partilhada também pelo costureiro Alexandre Ferreira, que aos 78 anos ainda corta e costura para o “ministro da Guerra”, referindo ao ministro Aguiar Branco.
“Faço fatos de 900 euros até 2.500. Tenho clientes ainda que fazem fatos para 2.500 euros”, confessa, sublinhando que um fato feito por medida ao corpo do cliente “fica outra coisa”.
Recordando com saudade a Rua de Santa Catarina, a artéria mais comercial da cidade do Porto, quando “era um viveiro de alfaiates”, Alexandre Alfaiate afirma que houve uma quebra “bastante grande”.
“Nos tempos áureos chegava a fazer 300 fatos por ano”, mas hoje, Alexandre já não consegue fazer média nenhuma de quantos fatos executa. “Talvez um por semana”, lança, incrédulo nas suas próprias previsões.

E se Alexandre Alfaiate defende que aquela arte só vai resistir para uma clientela muito reduzida”, o colega de profissão Augusto Saldanha, com atelier junto à Rua das Flores, acredita que a profissão de alfaiate não está em vias de extinção.
“Eu sou dos que ainda mantenho que o alfaiate nunca há de acabar. Já há menos e cada vez vai haver menos, mas acabar, acabar …, nunca chega a acabar”, acredita Augusto Saldanha, o alfaiate do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, e do eurodeputado Paulo Rangel.
O alfaiate conta que “trabalha para quem se sabe vestir” e “para quem quer vestir” e para “quem pode vestir”, mas não gosta de falar de preços. “Nem a minha mulher, que dorme comigo na cama, sabe o preço dos meus fatos”.
A obra fica mais barata do que a aquela que anda aí na boa confecção e “não é tão cara, como muita gente julga”, garante Augusto Saldanha, sublinhando que um fato seu é para o usar no dia-a-dia, não sendo um traje domingueiro ou para festas.
”Estas pessoas fazem pouco e estimam muito a roupa. Cada peça que eu lhes faço é uma jóia que compram. Não compram por comprar, nem compram e deitam fora. Ao contrário do que muita gente julga, estas pessoas estimam a roupa, não a deitam fora e recuperam-na muitas das vezes”, explica.

Os artistas do dedal, agulha, linha e tesoura vão continuar a ajustar-se aos desejos dos cliente da alta sociedade, que ainda são o melhor cartão-de-visita para não deixar morrer a profissão.

por Cecília Malheiro, da Agência Lusa
Lusa/SOL

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Esta bARCA é "um confessionário sem padre" onde cabe de tudo

 O que é que uma cidade entrega de si mesma, quando o que está em causa é recuperar daqui a cem anos aquilo que ela hoje é? Para ter a resposta absoluta a esta pergunta há que esperar os tais cem anos, até 2112, e assistir à abertura da bARCA da Memória, aquela que faz parte do programa de animação sócio-cultural Manobras no Porto e que, até sábado, vai receber as recordações que cada um ali quiser deixar, para, no domingo, ser afundada no mar. Lá dentro vão cartas, muitas cartas. Mas também CD, fotografias, sameiras, porta-chaves, tesouras e as estatísticas criminais do Porto do ano passado.

  O alfaiate Victor Gonçalves receia que daqui a cem anos a sua profissão seja apenas uma memória
            O alfaiate Victor Gonçalves receia que daqui a cem anos a sua profissão seja apenas uma memória


O Comando Metropolitano do Porto da PSP e um alfaiate da Baixa da cidade quiseram associar-se ao projecto imaginado por José Carretas e que a associação cultural Panmixia está a pôr em prática. Das mãos do comandante metropolitano Pinto Vieira, a barca irá receber várias folhas de papel. "A estrutura orgânica do comando, uma lista nominal de todas as pessoas que trabalham na PSP do Porto e uma sinopse da estatística criminal do ano de 2011", explica Pinto Vieira ao PÚBLICO. A fechar a oferta está o brasão de armas da PSP e um desejo dito entre sorrisos: "Espero que, quando abrirem a barca, daqui a cem anos, possam dizer: "Já em 2012 o Porto era uma cidade tranquila.""

Se a cápsula "hermética, inviolável, inoxidável, impermeável e não poluente" que vai guardar a oferta da PSP conterá, sobretudo, papéis, a que couber ao alfaiate Victor Gonçalves terá um recheio bem mais diversificado. Lá dentro irão tesouras, linhas e dedais, uma fita métrica, duas escalas, agulhas de coser da extinta Checoslováquia, tecido, giz e um livro técnico. Tudo instrumentos do trabalho que ainda hoje desenvolve, num 1.º andar da Rua das Galerias de Paris.

O alfaiate, de 54 anos, soube do projecto "pelos jornais" e quis que parte da memória do Porto de 2012 fosse também a sua. "Achei a ideia muito interessante e quis participar, porque a minha profissão, daqui por alguns anos, vai ser mesmo uma memória."

Além dos instrumentos de trabalho, Victor Gonçalves vai oferecer uma medalha do encontro anual de alfaiates. E pensou em colocar num CD o conteúdo do blogue que criou e alimenta (blog-dos-alfaiates.blogspot.com), mas ficou-lhe a dúvida: "Daqui a cem anos o CD já deve estar obsoleto, sei lá se ainda há forma de o ler."

É uma boa questão, admite José Carretas, o criador da barca da memória portuense. E, para prevenir, é bom que a Panmixia ou a Câmara do Porto ponham já de lado um leitor de CD que funcione daqui a cem anos, porque dentro da barca, é garantido, vão vários discos compactos. Carretas confessa ao PÚBLICO que espera receber muito mais doações do que aquelas que até agora foram entregues nos seis pontos de recolha - miradouros da Sé e da Vitória, Passeio das Virtudes, Largo d"A Conquistadora (Miragaia) e estação de metro da Trindade, entre as 15h e as 19h -, mas acredita que, "à boa maneira portuguesa", os portuenses vão comparecer em massa até ao final da tarde de sábado. "Temos cerca de 400 objectos, mas a barca tem capacidade para cerca de dois mil", diz.

E o que lá está guardado? Ele desfia o que lhe vão transmitindo dos pontos de recolha. "Muitas cartas e poemas. Alguns CD com registos musicais. Um senhor levou a chave de casa. Outro, seis volumes encadernados por ele com a história da sua vida desde o casamento. Há coisas ali que quer que um neto leia, mas não a família actual. Temos postais, fotografias, dentes de leite, latas de cerveja e de coca-cola. Uma senhora disse que ia levar uma francesinha. Outra levou uma carta aos pais que já morreram. Uma estrangeira levou o Kamasutra. Entregaram-nos um paralelepípedo do Porto. Um senhor de idade levou uma fotomontagem feita por ele, alusiva ao ET, que mostra uma menina no céu, com uma bicicleta. Diz que é uma recordação da primeira vez que foi ao cinema com a neta. Deixaram-nos um euro, uma caderneta de cromos e um cachecol do FC Porto..." A lista continua. "Somos um confessionário sem padre", diz Carretas. Até às 19h de sábado, a barca vai estar aberta para muitas mais memórias.

 In Público
 Patrícia Carvalho
Adelaide Carneiro

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Alfaiate dos toureiros homenageado com exposição em Coruche

Manuel Marques é conhecido como o alfaiate dos toureiros. Faz casacas há mais de 30 anos e agora vai ter direito a uma homenagem, através de uma exposição no Museu Municipal de Coruche.



RTP
Patrícia Pedrosa/ Jaime Guilherme/ Arthur Paiva

sábado, 25 de agosto de 2012

Espaço museológico aberto à população mostra a arte da confecção

Mesmo ao lado daquela que foi uma das mais conceituadas alfaiatarias da cidade, encontra-se um espaço museológico onde Vítor Gaspar reuniu, e tem patente, vária documentação, materiais, esboços e livros de formação de uma profissão que caiu em desuso.


Ao longo de quase 50 anos de actividade, a Alfaiataria Gaspar vestiu algumas das figuras mais conhecidas desta cidade, numa época em que a roupa era feita por medida e ter um fato era sinónimo de posição social ou de festejo importante. Os anos passaram e a evolução social deu lugar ao pronto-a-vestir, fazendo com que alfaiates e costureiras fossem caindo em desuso.

No entanto, na rua do Almocreves, em pleno centro histórico de Setúbal, no primeiro andar do n.º 8, Vítor Gaspar transformou o espaço numa galeria onde expõe as suas pinturas, para além de vários objectos e documentos que foi guardando ao longo dos muitos anos em que exerceu a profissão de alfaiate.
Subidos ao primeiro andar daquele espaço, somos “recebidos” por uma máquina de costura “Singer” onde se encontram expostos artigos indissociáveis desta profissão, tais como a almofada de alfinetes, a tesoura de corte, o giz e outros tantos que faziam parte do dia-a-dia de um alfaiate. Sobre uma mesa de trabalho, um corte de bombazine, bem esticado e já devidamente marcado pelas mãos do mestre, mostra a primeira fase do que iria ser um par de calças de homem, certamente para o aconchego de mais um Inverno. A um canto da área de trabalho, os apontamentos mais preciosos de um alfaiate: as medidas de cada um dos clientes, devidamente identificadas e minuciosamente apontadas para que, ao envergar o fato, o mesmo caísse no corpo de quem o encomendou como uma segunda pele.
Mesmo ali ao lado, um expositor mostra as melhores fazendas e as escolhas a fazer pelo freguês que só tem que imaginar como irá ficar vestido nos vários tons que a casa oferece.
Junto ao varandim da habitação, numa outra mesa estão recordações de uma vida: a sebenta de um curso de 10 meses, tirado em Lisboa em 1955, que final era avaliado por mestres alfaiates, que definiam o resultado, individual, de cada um dos futuros profissionais; fotos diversas, entre elas a presença de Vítor Gaspar em Congressos de Mestres Alfaiates realizados um pouco por todo o mundo; uma outra foto já com o mestre na sua loja – então situada no n.º 10 da referida rua -, tendo por detrás um dos fatos oficiais que, feitos naquela alfaiataria, foram usados pela comitiva do Vitória de Setúbal na sua digressão pelos Estados Unidos, entre muitas outras peças que compõem esta exposição de uma profissão que os mais novos, certamente, pouco terão ouvido falar e muitos nem saberão que alguma vez tenha existido.
No entanto, esta mostra completa-se com uma outra exposição que preenche as paredes deste atelier/galeria, constituída por quadros, a óleo sobre tela, da autoria de Vítor Gaspar e que o mesmo intitulou de “O alfaiate através dos tempos” e que, tal como a designação indica, mostra a arte da alfaiataria aos longos dos séculos.
Aliás, esta exposição pretende, segundo Vítor Gaspar, dar a conhecer “principalmente aos mais novos, uma profissão quase extinta e que muitos nem saberão o que era, como se fazia e quais as fases por que passava a confecção de uma peça de roupa”. Questionado sobre a extinção desta arte, Vítor Gaspar diz que a mesma “era previsível. Os tempos mudaram e as pessoas já não têm tempo, nem paciência, para estarem vários dias a espera de uma peça de roupa, que ainda tinha que passar por provas antes de estar concluída”. Por outro lado, o ex-alfaiate diz que actualmente “existem no nosso pais bons estilistas, que apresentam trabalho de grande qualidade e que não tenho dúvidas que poderão ter muito sucesso a nível internacional”.
A exposição sobre esta profissão está, tal como já referimos, patente no 1.º andar do n.º 8 da rua dos Almocreves e quem a pretenda visitar, nomeadamente, grupos escolares, poderá fazê-lo a partir de marcação através do número 933151662.

Ana Maria Santos

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Trajes de tourear em exposição em Coruche



"Linhas Toureiras - A arte de Manuel & Margarida Marques" é o tema de uma interessante exposição que pode visitar a partir de 15 de Agosto no Museu Municipal de Coruche.
Iniciativa do Núcleo Tauromáquico do Museu, com o apoio da Câmara Municipal, esta mostra de trajes de toureiros da autoria dos alfaiates locais Manuel e Margarida Marques ficará patente ao público até ao próximo dia 7 de Outubro.A não perder.

 Foto D.R.
in Blog "Farpas"

terça-feira, 24 de julho de 2012

Dia do Alfaiate e da Modista




Longe vão os tempos em que a costureira, na aldeia, era uma figura de estilo! Andava de casa em casa, a prestar o seu serviço, às famílias, fazendo-se acompanhar da sua ferramenta de trabalho – a máquina de costura, normalmente uma Singer.
Costureira era uma profissão de topo, numa sociedade rural em que na hierarquia feminina, a mulher era uma trabalhadora indiferenciada, que nem sequer conquistara o título de camponesa! Este, só no Alentejo, associado a uma certa conotação política, personificado na figura de Catarina Eufémia!
Cada família tinha a sua costureira, que ia confecionar a roupa necessária, por medida e ao gosto particular da mãe e dona de casa.
O alfaiate, figura de destaque, no local onde residia, era um costureiro, por isso, devia acompanhar a moda e atualizar os modelos e tecidos das roupas. Mulheres que exigiam modelos exclusivos ou homens que desejassem usar um figurino elegante procuravam o alfaiate para compor seu estilo. O prêt-à-porter, ou “pronto a vestir”, vai na contramão do alfaiate, pois produz roupas em linhas de montagem, enquanto o alfaiate trabalha com modelos exclusivos.
Pode-se dizer que não há muita diferença entre o alfaiate e o costureiro ou costureira comum. Mas os alfaiates que ficaram famosos, por costurar para pessoas da elite social, dão certo glamour à palavra.
Os profissionais da área, geralmente, trabalham num atelier e, quando precisam de ajuda, contratam aprendizes.
Reportando-me à minha meninice e juventude, recordo a cena da costureira que vinha a nossa casa, fazer os vestidos para as meninas, as calças para os homens e toda a espécie de indumentária. A mesa da sala de jantar era o palco das operações, já que aí se estendia o tecido, se talhava a roupa e se procedia a todos os passos. A máquina que viera com a costureira ou já fazia parte do espólio da família, trabalhava, trabalhava, naquele som característico da agulha a deslizar no tecido, movida pelo pé no pedal.
Havia casas que dispunham já da máquina de costura, na altura considerada um pequeno luxo, pois só alguns tinham posses para tal. Em famílias, como a do Zé da Rosa, com cinco mulheres em casa, a compra desse apetrecho fora uma aposta na profissão de costureira. Uma das quatro filhas, poderia enveredar por aí!
Tem tanto empenho nesse objeto, que a velha máquina, quase abandonada a um canto da casa, foi recuperada para o mundo dos vivos, mandada restaurar e levada para casa desta criatura, que não sendo costureira, sabe estimá-la e... usá-la quando mais não seja, para matar saudades dos velhos tempos em que a usava, frequentemente, nas longas férias de verão.... a fazer roupa para as bonecas!
A minha relação com esta profissão foi sempre muito próxima já que me sinto privilegiada... gostava de criar os meus próprios modelos de roupa, com alguma originalidade e... descobri, na Invicta, na minha passagem por lá, a pessoa talhada para me satisfazer todos os meus caprichos de moda – a Menina Maria!
Apesar de ser uma pessoa madura na idade e na experiência, todas as suas clientes a tratavam carinhosamente pelo diminutivo e confiavam-lhe todos os seus gostos, por mais exigentes que fossem. A Menina Maria sabia dar conta de todo o tipo de peça de vestuário, que lhe vinha parar às mãos: vestidos, saias, casacos de toda a forma e feitio, vestidos de noiva, enxovais, etc, etc. Nunca antes, na juventude, encontrara umas mãos tão sábias no corte, nunca vira tanta competência na arte de confecionar roupa. Aí, eu sentia-me, verdadeiramente abençoada, pois tinha encontrado alguém que sabia interpretar os meus anseios e os meu desejo de requinte!!! E... conseguia, assim, ter modelos absolutamente exclusivos! Eu desenhava-os e a menina Maria executava!
Quando punha a roupa em prova, lá me chamava a sua casa e tinha tanta paciência comigo! Nunca a vi esboçar qualquer enfado nem protesto com alguma coisa mais exigente que lhe pedisse. Quando provava o decote, já sabia... não poderia exceder a medida do razoável, isto é, a minha medida... pois não tinham ainda chegado os dias de hoje, em que a liberalização do decote... não tem medida!
Nunca foi meu lema de vida “Maria vai com as outras” e apesar de a moda ditar as suas leis, estas como todas as outras, para os anarquistas... só servem para violar!
Era assim, naquele tempo e... continua a ser assim, nos dias de hoje, pois não é do meu feitio exibir os “dons” que a natureza me deu!

Por Maria Donzília Almeida

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Imagens do XXIII Encontro Nacional de Mestres Alfaiates




Penalva do Castelo - A localidade escolhida para o XXIII Encontro Nacional de Mestres Alfaiates


                                                                                   
                                  




                 Ponto de encontro




Recepção na Câmara Municipal 









O aspecto religioso 





Hotel Casa da Ínsua

  O belíssimo local do encontro










O lado cultural









Aspectos do convívio





Aspectos do convívio









Sr. Fernando Lima, o mestre alfaiate mais idoso presente, com 86 anos









João Paulo Rodrigues, o alfaiate mais jovem presente, com 24 anos









Passagem de testemunho





O lado recreativo








Sr. António Pinto
 O organizador do encontro de 2012








No próximo ano estaremos juntos novamente, no XXIV Encontro Nacional de Mestres Alfaiates.

sábado, 19 de maio de 2012

Sérgio Alfaiate ainda faz fatos como antigamente

               A loja situa-se na Ajuda, em Lisboa (foto ASF)

Se há profissões em vias de extinção, o alfaiate é uma delas. Mas como para alguns a tradição ainda é o que era, tem de haver também quem satisfaça os pedidos daqueles que procuram fatos feitos à medida e pode encontrá-los no «Sérgio Alfaiate», na Ajuda, em Lisboa.

Há 38 anos que Sérgio Marques e a sua mulher Maria da Conceição vestem os lisboetas mais exigentes que não usam “qualquer trapinho” nem se contentam com os fatos comprados numa loja qualquer e procuram um alfaiate, como já há poucos na capital portuguesa.

De (quase) padre, a alfaiate
Mas se em 1959, com 16 anos, Sérgio Marques chegou de Douro Calvo, em Viseu, para trabalhar para o primeiro patrão na mesma loja de que hoje é dono, foi por pouco que as fitas métricas e as tesouras não lhe passaram ao lado e se tornou padre. Mas Sérgio acabou por se tornar alfaiate, com medo de ser... capado.
«Naquele tempo os missionários iam às escolas nas terras mais pequenas para 'recrutar' miúdos para irem para padres, eu andava na quarta classe quando lá foram e me disseram que eu era um dos que ia ser padre e eu tive vergonha de dizer que não queria», conta Sérgio Marques, confessando o que o fez mudar de ideias:
- Um dia depois das aulas, estava na mercearia a ajudar o meu pai quando uns senhores começaram a gozar comigo a dizer que quem ia para o seminário era capado e eu no dia seguinte perdi logo a vergonha e disse ao missionário que afinal não queria ser padre, mas nem lhe disse porquê.
Não querendo ser padre nem podendo ficar a trabalhar na mercearia, como realmente gostava, porque o pai dizia que não era futuro, acabou por se tornar alfaiate.
«Quando me tiraram da mercearia para ir para a alfaiataria até chorava, porque o que eu gostava era de estar no balcão, mas agora não me via a fazer mais nada senão isto», conta Sérgio, o mais velho de seis filhos.


Casamento sem namoro dura 47 anos...
Em Lisboa desde 1959, onde estudou na Academia de Corte Maguidal e conheceu a mulher, com quem casou sem namorar, Sérgio deixou a Ajuda de 1968 a 1974, altura em que foi fazer fatos por medida para Angola, onde tinha família, e diz nunca ter trabalhado tanto quanto em Luanda. Porém, foi obrigado a voltar devido à situação política. Regressou já com uma filha e abriu a loja onde trabalhou pela primeira vez na capital portuguesa, agora como proprietário.
«Conheci a Maria da Conceição quando íamos buscar fatos ou entregar na alfaiataria, ela era costureira de calças. Passeámos e conversámos muito mas nunca namorámos. Um dia estávamos a passear em Queluz, passámos por uma capela e decidimos entrar para casar. O padre tratou dos papéis e passado um tempo casámos e fizemos uma festa. Quando se gosta não é preciso perder tempo a namorar», diz Sérgio, considerando que talvez seja esse o segredo para um casamento que dura já 47 anos.
Além de dois filhos, Sérgio e Maria partilham a paixão pelas agulhas e máquinas de costura, trabalhando juntos no «Sérgio Alfaiate», onde muitos dos clientes passaram a ser também amigos. Um dos mais antigos é um cliente a quem Sérgio já fazia fatos em Luanda, tendo inclusive ido ao casamento do filho dele e feito fatos para vários dos convidados.
Mas nem todos os clientes são amigos e há mesmo aqueles que são para esquecer, pelas exigências sem sentido ou críticas descabidas de quem não percebe do assunto ou nem sabe bem o que quer. Esse é o segredo do sucesso neste negócio, conseguir agradar e satisfazer 'o mais chato' dos clientes, numa altura em que cada vez menos gente dá ou percebe o valor de um fato feito à medida, sendo também cada vez menos a procurá-los.
«Antigamente se calhar fazia 150 fatos por ano, agora se calhar são preciso três ou quatros anos para fazer o mesmo», lamentou Sérgio, que tão cedo não pensa deixar o giz e espera continuar a trabalhar para os outros durante muitos e bons anos, a fazer fatos como antigamente...


Por Rita Ferro Baptista
Fotos de Álvaro Isidoro/ASF
Jornal "A Bola.pt"

terça-feira, 15 de maio de 2012

Técnica


Alguns processos operatórios de confecção de casaco de homem
  
(Método alfaiate)


1 - Entretelamento. 
 Concluídos os alinhavas da cinta para cima, suspende-se a obra com a mão direita. A aba do casaco cairá naturalmente. Pegamos juntamente fazenda e entretela pela bainha e, colocando depois sobre a mesa de trabalho, para alinhavar da cinta para baixo.


2 - A prova.
Ajustar ao corpo, com dois ou três alfinetes e tombar para a direita as bandas e o trespasse, fixando com um alfinete em cima no extremo superior das bandas e com outro alfinete na linha de cinta. Evita­-se assim que as pontas das bandas incomodem o cliente, roçando a cara. Notar o perfil de Mestre Guilherme de Almeida na sombra projectada na parede.
                                                   


 3 - Prova do ombro. 
Verificar se os golpes de "deslace" do decote e dos ombros estão bem localizados 
e se abrem o suficiente.



4 - Acerto da obra.
 Antes de se tirarem os alfinetes, dar um traço a giz junto  da beira do traseiro, conforme o resultado da prova. Depois são dados dois traços transversais que limitam o "metido".




 5 - Alinhavado da gola.  
A gola alinhava-se certa, somente na zona da costura do ombro, na curvatura mais acentuada do decote, se deve dar um "leve metido".



 6 - Acerto da gola
 A gola acerta-se com a largura adequada e depois de riscada é aparada.



7 - Encapamento da gola.  
Depois da gola "orlada" seguem-se as escalas com o cuidado de que a capa de gola não fique com falta de fazenda nas pontas. Finalmente "orlam-se" os extremos.



 8 - Alinhavar das mangas.
Começa-se por alinhavar a manga a partir da "costura do sangradouro" e continua a ser alinhavada à vontade, sem "branduras", depois alinhava-se pelo lado de dentro, com alguma brandura que se vai aumentando até chegar à parte superior da "cabeça" da manga em que a brandura passa a ser menos acentuada e segue assim até à costura do cotovelo.



                                       
9 - Treladado da manga. 
 A fase de "treladado", logo a seguir ao "apontado" é um trabalho que deve ser feito com linha dobrada e que serve para fixar a fazenda, a entretela, a paleta ou ombreira e o forro e vai depois servir de guia para se guarnecerem os forros das mangas.


                                      
10 - Passar a ferro.
  "Esmagar" bem (vinco da gola) o "quebrado" da gola até quase a meio de cada banda.

                             



Revista Vestir
Civec

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Fases de construção de um casaco clássico


No seu trabalho de investigação, " O alfaiate faz fatos e faz corpos", Ana Margarida Magalhães, apresenta 22 fases relativas à confecção de um casaco, designando esse conjunto como «cadeia operatória». Contabiliza, a partir da determinação das mencionadas fases, um total de 60 acções. Abaixo enumeramos as vinte e duas etapas referidas nesse documento:

- Molhar a fazenda 
O corte da fazenda - ou seja o pedaço de tecido necessário para a confecção da peça de vestuário - é enrolado juntamente com um tecido, normalmente pano cru, molhado; permanece assim envolto na humidade do pano, a ressumar, durante um dia.

-Tirar medidas ao cliente
Ao tirar as medidas, o mestre alfaiate faz um reconhecimento do corpo. Em folha própria,
anota as medidas a tomar em consideração e as especificidades do corpo em questão.

- Riscar e cortar o fato
O desenho da peça de vestuário é riscado a giz directamente no tecido, com a ajuda das réguas e esquadros, de acordo com as medidas do corpo; seguindo as indicações de corte, o tecido deve depois ser cortado pelo risco.

- Pôr o casaco em prova 
Fazem-se marcações e alinhava-se o casaco.

- Primeira prova
Depois de provado o casaco, os alinhavos são desmanchados e riscam-se as correcções no tecido.

- Fazer as entretelas
Cortam-se a entretela, a crina e o pano cru e cosem-se. Os três tecidos já unidos são enchumaçados e passados a ferro.

- Fazer os bolsos 
Cortam-se os aviamentos, fazem-se as portinholas e "metem-se" os bolsos.

- Alinhavar as entretelas ao casaco

- Preparar o casaco para a segunda prova.
 Alinhavam-se as entretelas aos quartos, enchumaçam-se as bandas e alinhava-se o casaco.

- Segunda prova

- Fazer as bandas 
Corta-se a capa das bandas e "encapam-se".

- Forrar o casaco 
Cortam-se os forros e aviamentos para os bolsos de dentro. "Metem-se" os bolsos interiores e alinhavam-se os forros à fazenda.

 - Coser as ilhargas e a bainha do casaco

- Coser as ilhargas e os ombros dos forros

- Fazer a gola 
Corta-se, cose-se a costura, enchumaça-se e trabalha-se a gola a ferro.

- Pregar a gola no casaco 
Alinhava-se a gola ao casaco, acerta-se, corta­-se a capa da gola, encapa-se e guarnece-se.

- Fazer as mangas 
Cosem-se as costuras do sangrador e do cotovelo e orlam-se as mangas.

- Forrar as mangas  
Corta-se o forro, cosem-se as folhas dos forros e guarnecem-se.

- Aplicar as mangas ao casaco

- Acabamentos 
Guarnece-se o forro. Aplica-se a etiqueta e caseia-se o casaco.

- Passar o casaco a ferro

- Pregar os botões 
No casaco de dois botões, o primeiro botão a contar de cima deve ser colocado na linha da
cintura sobre o umbigo.


"A tesoura de Emmanuel Kant"
Diana Regal
Edição: Civec

segunda-feira, 7 de maio de 2012

XXIII Encontro Nacional de Mestres Alfaiates







PROGRAMA

    10hOO
Recepção na Câmara Municipal de Penalva do Castelo

11 h30
 Missa solene em honra dos Alfaiates Falecidos
 (Igreja da Misericórdia)

    13hOO
Visita à "Casa da Ínsua" e Almoço-Convívio no Restaurante do Hotel de Charme;
 Actuação da Tuna São Martinho de Pindo;

18hOO
Encerramento e entrega de certificados.


   

 Comissão Dia do alfaiate
    António Lopes Pinto
962903351 / 924292110 / 232642345

domingo, 6 de maio de 2012

Homenagem ao alfaiate Manuel Soares



Manuel Soares é o último da geração de antigos alfaiates que tanto dignificou a profissão no Paião. Por isso, na sua pessoa, o Rotary estende esta homenagem aos muitos mestres alfaiates já desaparecidos, bem como aos que na actualidade continuam dignamente a exercer este ofício.

                                                                          
Anualmente, o Rotary Clube da Figueira da
Foz distingue uma actividade profissional, tendo escolhido este ano o Alfaiate. Na cerimónia, que se realizou num restaurante no Paião, terra do homenageado ou não fosse esta freguesia conhecida como a “Terra dos Alfaiates”, a presidente deste clube de serviço, Rosa Baptista, salientou a importância desta iniciativa que se desenrola desde 1992 e que já permitiu reconhecer o mérito pelos pares e pela comunidade de diversos profissionais desde o comércio livreiro, à pesca, passando pela medicina, arquitectura, advocacia, marnoto, entre outros.
Agora foi, então, a vez do alfaiate Manuel Seco Soares, com 82 anos, o mais antigo daquela geração que viveu os tempos prósperos da actividade, nas décadas de 60 e 70, quando chegaram a co-existir, no Paião, cerca de 33 oficinas de tipo semi-familiar. Hoje restam seis, todos significativamente mais novos que mestre Manuel Soares. Um decréscimo na actividade que se deveu ao crescimento da indústria de pronto-a-vestir e da moda, embora se continue a valorizar o atendimento personalizado, a superior qualidade e perfeição da confecção por medida.


Excerto da Notícia - 3 de Maio de 2012
Jornal "A Voz da Figueira"

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Utensílios do alfaiate





  Agulha e Dedal 
 O dedal de alfaiate é aberto no topo, e é usado para arrastar a agulha com a polpa do dedo grande, ao contrário do dedal de bordadeira, que se usa para empurrar o rabo da agulha com a parte de cima do dedo, como acontece, por exemplo, no bordar em bastidor. Aos aprendizes de alfaiate atava-se o dedo grande ao pulso para ganharem o jeito.
 
  Alfineteira
Espécie de pulseira com uma almofada onde se espetam os alfinetes,
 que se coloca no pulso do alfaiate para fazer a prova.

  Cabeço
Pedaço de madeira com o formato de meia circunferência com mais ou menos 40 cm de diâmetro e 7 cm de espessura que serve para abrir a costura da cuada (costura da calça que vai da carcela ao meio de trás, na linha da cintura).

 Chapo
Tiras de tecido, dobradas e atadas na ponta de maneira a fazer uma pega, que se embebem em água para humedecer a zona onde se vai dar a ferro.


  Ferro de engomar
Costuma-se dizer que o ferro é meio costureiro, 
pois é indispensável na confecção de uma peça de vestuário.
É usado, com a ajuda do cabeço e da mona, para dar forma ao tecido, 
que deve estar humedecido. Os alfaiates de hoje em dia continuam 
a preferir o antigo ferro eléctrico, por ser mais pesado 
do que o actual ferro a vapor. Na primeira metade do séc. XX usava-se o ferro a carvão.

 Fita métrica
Instrumento de medição de material flexível que normalmente se apresenta de um lado em centímetros e do outro em polegadas (medida inglesa).

  Giz
O giz de alfaiate serve para riscar a peça no tecido com as indicações de corte e fazer as correcções nas provas. Para afiar o giz há um utensílio próprio designado por afiador de giz, uma caixa de madeira com lâminas.

  Linha de alinhavar
A linha de alinhavar é usada no ponto de alinhavar ou ponto adiante, para pôr em prova a obra, porque parte mais facilmente do que o fio de seda e é mais visível no tecido. Podem ser reutilizadas.

 Medidor de gancho
Objecto usado pelos alfaiates para tirar a medida do gancho ao chão, ou medida de entre pernas, das
senhoras.

  Monas ou Chongas e Cavalete ou Régua Inglesa
Auxiliam a passar a ferro partes específicas das peças de vestuário. A mona ou chonga é uma almofada cheia de tecido ou serrim, rígida, com o tamanho de um dorso, que se coloca por baixo das frentes do casaco para se passar a ferro, ou almofada de mão a que se pode também chamar luva, que se usa para dar o jeito à gola e aos ombros do casaco. O cavalete também designado por régua inglesa, utiliza-se para passar a ferro as mangas do casaco e tem uma base em madeira acolchoada e revestida a tecido.

  Régua de escalas e Esquadro
Instrumentos de medição, tradicionalmente em madeira, utilizados em conjunto para tirar paralelas. As réguas apresentam as medições e as respectivas escalas em centímetros.

  Secador
Espécie de palmatória em madeira que se utiliza para bater a parte da peça de vestuário que foi humedecida
e dada a ferro, mas que ainda se encontra molhada.


  Tesoura de corte
Tesoura de grande porte utilizada somente para cortar a peça de tecido.







A tesoura de Emmanuel Kant
O ofício de alfaiate em Portugal no séc. XX
Diana Regal
Edição: Civec