quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Alfaiates resistem à moda do pronto-a-vestir



Quatro a cinco mestres de alfaiataria, dois em actividade regular, tentam resistir, em Viseu, à crise ditada pela moda do pronto-a-vestir. Uma moda que ganhou novo fôlego a partir da década de 70 e que, aos poucos, vai obrigando muitos a fechar as portas por falta de clientela. O encontro de convívio que hoje se realiza na cidade, com a presença de algumas dezenas de profissionais do sector, pretende alertar para a necessidade de incentivar os jovens a abraçarem uma profissão em risco de extinção.

"O Governo tem de aproveitar os artistas ainda no activo para incutir nos jovens o gosto por esta actividade. Uma tarefa que terá de passar pela atribuição de incentivos financeiros que viabilizem a planificação de acções de formação", sugere Avelino Ferreira, um dos alfaiates da cidade, que promete resistir enquanto as forças não o abandonarem.

Natural de Vale de Cambra, no distrito de Aveiro, Avelino Ferreira, 63 anos, passou quase toda a sua vida, entre Portugal e Luanda (Angola), a confeccionar fatos por medida. Alturas houve, em anos recuados, que chegou a produzir dez por mês. "Agora se fizer 20 por ano já é uma boa média", diz com tristeza.

300 euros por fato

Apesar da crise que afecta o sector, Avelino Ferreira consegue ver uma luz ao "fundo do túnel". "Tenho um filho, licenciado em Gestão de Empresas, que decidiu pôr o canudo de lado e abraçar esta belíssima profissão. Está em Londres a fazer formação", partilha com visível orgulho.

A exemplo de outros colegas, Avelino Ferreira acredita que os alfaiates ainda têm futuro. "Os fatos feitos à medida terão sempre mercado", garante o empresário, que elenca três segmentos de clientes fiéis as pessoas que exigem qualidade no talho, na confecção, nos tecidos e acessórios; os que têm dificuldade em encontrar no pronto a vestir fatos que lhes fiquem bem; e os portadores de alguma deficiência.

Um fato feito à medida podia custar, há algumas décadas, 300 escudos. "Hoje aquele dinheiro daria para comprar um botão. Um fato razoável não custa menos de 300 euros. E se o tecido for de muita qualidade pode ir aos mil euros e mais", declara Avelino Ferreira.


Teresa Cardoso

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu sou filho de alfaiate. Segui os passos do meu pai e com a sua morte tomei conta da alfaiataria. Apenas tinha 28 anos. Acho que sou, como mestre, o alfaiate mais novo de Portugal. Tenho apenas 46 anos e posso dizer que esta arte está a ser muito procurada por pessoas que aprenderam a vestir bem, a ter vaidade e a usarem roupa feita para o seu próprio corpo. Tenho pena de alfaiates nao terem coragem de dizer que os fatos de confecção ainda estao muito aquém e eu posso provar: basta um pouco para arranjar fica logo desformado é um trabalho sem poder modificar, é pena as pessoas serem enganadas com essas pré- colagens que esses fatos têm, nao valem os euros que pedem por eles.