domingo, 24 de fevereiro de 2008

Mãos de Ouro

Alexandre Oliveira Ferreira é mestre na arte de bem coser e um dos melhores e mais antigos alfaiates do Porto, e, quem sabe, de Portugal. Detentor de uma sabedoria incalculável numa arte que, infelizmente, hoje, se encontra em extinção. Este é um exemplo de 50 anos de sucesso e amor a um ofício de longa data.

O alfaiate é responsável pela confecção da indumentária, é mestre especializado e tido em grande consideração. Possuidor de grande habilidade em talhar, cortar e exe­cutar qualquer peça que lhe seja re­quisitada, é-lhe ainda exigido saber a quantidade de pano necessário para a confecção de cada peça. Pelas mãos do nosso entrevis­tado já passaram um número sem conta de clientes. Em entrevista ao jornal «O Primeiro de Janeiro», Alexandre Oliveira Ferreira conta a história dos anos de actividade no seu oficio. "Comecei a trabalhar como alfaiate aos 13 anos de ida­de, na mesma alfaiataria de que sou proprietário, mas, como emprega­do. Nessa altura era meu patrão Américo Pacheco, que infelizmen­te morreu tinha eu 23 anos. Foi então que tomei a iniciativa de fi­car com o estabelecimento e conti­nuar o ofício", explica o nosso en­trevistado. O «Alexandre alfaiate», já exis­te há 50 anos, sendo essa uma das razões de hoje ser uma casa com nome na cidade do Porto. O nosso interlocutor, durante os anos de actividade, vestiu pessoas de grande importância na Invic­ta. Os alfaiates de renome eram fre­quentados pela classe média alta da sociedade portuense, talvez tam­bém, devido ao facto dos preços pra­ticados para um fato, que impossibi­litavam o acesso a uma classe mais baixa. "A qualidade é algo que não tem preço. Basta o facto de o fato ser feito especificamente para essa pessoa, que lhe vai "cair" de uma forma perfeita, podendo, até, atra­vés das mãos do alfaiate disfarçar alguma incorrecção na postura do cliente", declara Alexandre Olivei­ra Ferreira.
Hoje o estabelecimento já não é tão procurado como há dois anos atrás, esta é uma prática que está cada vez mais a cair em desuso, ou seja, ir ao alfaiate mandar fazer um fato. As razões são duas: uma por­que as pessoas não têm tempo e pre­ferem ir a um pronto-a-vestir, onde podem experimentar e levar logo para casa, a segunda razão pode ser atribuída aos preços, porque a soci­edade portuguesa está a ser afectada por uma crise económica, cor­tando naquilo que atribuem ser mais supérfluo. Como nota de curiosida­de, refira-se, também, que a faixa etária mais jovem nunca foi grande adepta desta arte, preferiram, sem­pre, as práticas calças de ganga "Não digo que perdi os meus clientes, isso não é verdade, apenas noto uma redução no número de fatos que me encomendam por ano, e, noto também que nos dias que cor­rem sou mais requisitado por cli­entes que têm dificuldades em en­contrar no pronto-a-vestir, fatos com os seus números, ou então, também sou procurado por pesso­as que procuram algo de diferen­te, que precisam de uma pessoa como eu para lhes fazer um fato", explica o nosso entrevistado.
O estabelecimento do nosso entrevistado é composto pelo atelier e por uma boutique no rés-do-chão, onde expõe as suas obras de arte e, onde também expõe todo o tipo de acessórios, que possam acompanhar um fato e, ainda as fazendas com que são confeccionados os fatos. O cliente que entre na loja de Alexandre Oliveira Ferreira, encon­tra à sua disposição um catálogo onde pode escolher o feitio que pre­tende e, no mesmo sítio escolher as fazendas que são todas de grande qualidade, pois esse é um requisito imprescindível para a confecção de um bom fato. É, também, impor­tante referir que todos os fatos aqui confeccionados são exclusivos, nun­ca são feitos dois fatos iguais, por outro lado, é de referir que não se consegue, no comércio do pronto a vestir, encontrar fazendas iguais às que o Alexandre... utiliza. "Na mi­nha loja só utilizo fazendas da me­lhor qualidade, só trabalho com fa­zendas inglesas e italianas", comen­ta Alexandre Oliveira Ferreira. Agora com 70 anos, o nosso entrevistado enfrenta as consequên­cias da industrialização, que lhe fez descer as vendas, porque a popula­ção portuguesa prefere ir para o shopping fazer as suas compras, esquecendo-se do comércio tradicional. Esta é também a sua principal concorrente, pelas razões já referi­das atrás. Esta é uma profissão em ex­tinção, porque ninguém a quis se­guir, "para se ser um bom alfaiate são necessários mais anos do aque­les necessários para tirar um curso superior numa faculdade, por essa razão eu lhe atribuo o nome de cur­so superior.Pois para se conseguir executar uma fato na perfeição são necessários seis anos de muito trei­no e dedicação. Esta é uma profis­são como os antigos sapateiros que faziam sapatos por medida e que hoje estão em extinção, como nós", lamenta o nosso entrevistado.
Alexandre Oliveira Ferreira la­menta o facto de não ter consegui­do incutir aos seus filhos o gosto por esta profissão, nem ter conseguido ensinar nenhuma pessoa, que agora podia continuar e preservar a sua arte e os seus segredos.
Para concluir o nosso interlo­cutor deixa uma mensagem aos seus clientes e futuros clientes, "queria desejar a todos os meus clientes um Feliz Natal e boas en­tradas para o ano novo e que tudo lhes corra pelo melhor. São estes os meus votos, e claro, que não deixem de aparecer na minha loja".

In Primeiro de Janeiro

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