Alexandre Oliveira Ferreira é mestre na arte de bem coser e um dos melhores e mais antigos alfaiates do Porto, e, quem sabe, de Portugal. Detentor de uma sabedoria incalculável numa arte que, infelizmente, hoje, se encontra em extinção. Este é um exemplo de 50 anos de sucesso e amor a um ofício de longa data.
O alfaiate é responsável pela confecção da indumentária, é mestre especializado e tido em grande consideração. Possuidor de grande habilidade em talhar, cortar e executar qualquer peça que lhe seja requisitada, é-lhe ainda exigido saber a quantidade de pano necessário para a confecção de cada peça. Pelas mãos do nosso entrevistado já passaram um número sem conta de clientes. Em entrevista ao jornal «O Primeiro de Janeiro», Alexandre Oliveira Ferreira conta a história dos anos de actividade no seu oficio. "Comecei a trabalhar como alfaiate aos 13 anos de idade, na mesma alfaiataria de que sou proprietário, mas, como empregado. Nessa altura era meu patrão Américo Pacheco, que infelizmente morreu tinha eu 23 anos. Foi então que tomei a iniciativa de ficar com o estabelecimento e continuar o ofício", explica o nosso entrevistado. O «Alexandre alfaiate», já existe há 50 anos, sendo essa uma das razões de hoje ser uma casa com nome na cidade do Porto. O nosso interlocutor, durante os anos de actividade, vestiu pessoas de grande importância na Invicta. Os alfaiates de renome eram frequentados pela classe média alta da sociedade portuense, talvez também, devido ao facto dos preços praticados para um fato, que impossibilitavam o acesso a uma classe mais baixa. "A qualidade é algo que não tem preço. Basta o facto de o fato ser feito especificamente para essa pessoa, que lhe vai "cair" de uma forma perfeita, podendo, até, através das mãos do alfaiate disfarçar alguma incorrecção na postura do cliente", declara Alexandre Oliveira Ferreira.Hoje o estabelecimento já não é tão procurado como há dois anos atrás, esta é uma prática que está cada vez mais a cair em desuso, ou seja, ir ao alfaiate mandar fazer um fato. As razões são duas: uma porque as pessoas não têm tempo e preferem ir a um pronto-a-vestir, onde podem experimentar e levar logo para casa, a segunda razão pode ser atribuída aos preços, porque a sociedade portuguesa está a ser afectada por uma crise económica, cortando naquilo que atribuem ser mais supérfluo. Como nota de curiosidade, refira-se, também, que a faixa etária mais jovem nunca foi grande adepta desta arte, preferiram, sempre, as práticas calças de ganga "Não digo que perdi os meus clientes, isso não é verdade, apenas noto uma redução no número de fatos que me encomendam por ano, e, noto também que nos dias que correm sou mais requisitado por clientes que têm dificuldades em encontrar no pronto-a-vestir, fatos com os seus números, ou então, também sou procurado por pessoas que procuram algo de diferente, que precisam de uma pessoa como eu para lhes fazer um fato", explica o nosso entrevistado.
O estabelecimento do nosso entrevistado é composto pelo atelier e por uma boutique no rés-do-chão, onde expõe as suas obras de arte e, onde também expõe todo o tipo de acessórios, que possam acompanhar um fato e, ainda as fazendas com que são confeccionados os fatos. O cliente que entre na loja de Alexandre Oliveira Ferreira, encontra à sua disposição um catálogo onde pode escolher o feitio que pretende e, no mesmo sítio escolher as fazendas que são todas de grande qualidade, pois esse é um requisito imprescindível para a confecção de um bom fato. É, também, importante referir que todos os fatos aqui confeccionados são exclusivos, nunca são feitos dois fatos iguais, por outro lado, é de referir que não se consegue, no comércio do pronto a vestir, encontrar fazendas iguais às que o Alexandre... utiliza. "Na minha loja só utilizo fazendas da melhor qualidade, só trabalho com fazendas inglesas e italianas", comenta Alexandre Oliveira Ferreira. Agora com 70 anos, o nosso entrevistado enfrenta as consequências da industrialização, que lhe fez descer as vendas, porque a população portuguesa prefere ir para o shopping fazer as suas compras, esquecendo-se do comércio tradicional. Esta é também a sua principal concorrente, pelas razões já referidas atrás. Esta é uma profissão em extinção, porque ninguém a quis seguir, "para se ser um bom alfaiate são necessários mais anos do aqueles necessários para tirar um curso superior numa faculdade, por essa razão eu lhe atribuo o nome de curso superior.Pois para se conseguir executar uma fato na perfeição são necessários seis anos de muito treino e dedicação. Esta é uma profissão como os antigos sapateiros que faziam sapatos por medida e que hoje estão em extinção, como nós", lamenta o nosso entrevistado.
Alexandre Oliveira Ferreira lamenta o facto de não ter conseguido incutir aos seus filhos o gosto por esta profissão, nem ter conseguido ensinar nenhuma pessoa, que agora podia continuar e preservar a sua arte e os seus segredos.
Para concluir o nosso interlocutor deixa uma mensagem aos seus clientes e futuros clientes, "queria desejar a todos os meus clientes um Feliz Natal e boas entradas para o ano novo e que tudo lhes corra pelo melhor. São estes os meus votos, e claro, que não deixem de aparecer na minha loja".
In Primeiro de Janeiro
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