domingo, 24 de fevereiro de 2008

Corte à medida


Manuel Queirogas, artista do corte e da costura é um dos poucos alfaiates da cidade do Porto, que vai sobrevivendo ao crescimento desenfreado das confecções e dos fatos prontos na hora.
Começou cedo a aprender a arte da alfaiataria. Aos 12 anos já trabalhava com a agulha e a fita métrica e dava os primeiros passos na con­fecção por medida, pelas mãos de alguns mestres. Ainda adolescente veio para a cidade do Porto trabaIhar e há 10 anos começava a trabalhar por conta própria e a ganhar a confiança dos seus clientes. "Mui­tos deles senhores ilustres da cida­de, que ao longo dos anos foram sendo vestidos pelas minhas mãos. Cada um com os seus gostos e com as suas medidas", explica.
Em tempos feudais eram alia­dos de extrema importância de gran­des senhores e de grandes famílias. Elementos indispensáveis na con­fecção das indumentárias, os alfaiates eram tidos em grande conside­ração pela sociedade. A grande ha­bilidade que lhes era exigida fazia deles mestres rigorosos e profissio­nais de alto gabarito. Nos últimos anos os alfaiates foram, no entanto, perdendo força, apesar de mante­rem a qualidade dos seus serviços intacta.
Manuel Queirogas lamenta o enfraquecimento do sector, o desa­parecimento de muitos dos seus co­legas de profissão e a multiplicação das lojas pronto-a-vestir, que con­tribuíram para esse enfraquecimen­to. As encomendas vão surgindo, agora, a conta gotas diz, "com o nú­mero a aumentar apenas em alguns meses. Os meses de Outubro, No­vembro e Dezembro são, sem dú­vida, os mais fortes", explica Ma­nuel Queirogas, "no resto do ano as encomendas vão surgindo aos poucos. Aumentam apenas nas mudanças de estações", explica.
"Há 20 anos quem queria um bom fato tinha que procurar o al­faiate", lembra o artista, "hoje a rea­lidade é diferente. As grandes con­fecções tomaram conta do merca­do. É a elas que a maioria dos ho­mens recorre para adquirir um fato. Uma solução que embora se apresente facilitada pode não ser a melhor", alerta.
No Queirogas Alfaiate encon­trará tecidos e cortes das melhores marcas, às mais acessíveis, "com a garantia de que sairá com um fato feito à medida das necessidades de cada um. Aqui ao contrário das lo­jas o cliente não paga a marca". Pa­gam o trabalho de um artista, que faz da tesoura o seu aliado.
Manuel Queirogas lamenta que os aprendizes tenham desapare­cido e que a profissão corra o risco de desaparecer, por falta de sucessores. Os mais velhos vão tentando manter viva a arte e vestindo aqueles que se mantêm fiéis ao corte.

In Primeiro de Janeiro




2 comentários:

Anónimo disse...

Um blog com um objectivo concreto e válido! E obrigada pela visita no meu.
Cumprimentos.

Anónimo disse...

Este senhor é meu tio.