segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Alfaiate, uma profissão que vai desaparecendo
A liberalização dos têxteis e a alteração na forma de vestir são razões apontadas pelo decréscimo na procura dos alfaiates. Actualmente, os mestres alfaiates que existem são poucos e,
não existem jovens a entrar na profissão.
Não fosse dedicar-se, em parceria com a esposa, também à confecção já Francisco Vidal não sobrevivia da alfaiataria. “Desde 2007 se não tivesse a parte da confecção era muito difícil. Ganhava para as despesas e pouco mais”, adianta o alfaiate joanense.
Francisco Vidal considera que vai haver sempre alguma coisa para fazer mas “nunca mais vai ser um actividade rentável”. De resto, o organizador do 19º Encontro Nacional de Mestres Alfaiates, Carlos Godinho dá 20 anos à arte da alfaiataria para desaparecer.
Aliás, actualmente, os alfaiates não proliferam como outrora. Francisco Vidal tem apenas 49 anos e, será um dos mais novos do concelho. Pois, os “mestres” que se dedicam a esta actividade são usualmente mais velhos.
Godinho aventou que deverão existir “20 ou 30” alfaiates na faixa etária dos 40 anos.
Vidal diz que nos últimos cinco anos a actividade começou a “abrandar” devido à liberalização dos têxteis e, que nos últimos dois anos diminuiu cerca de 80%.
“Acho que este decréscimo da procura dos alfaiates tem a ver com a moda e, hoje em dia é propício ir ao pronto a vestir”, aponta Francisco Vidal apontando que as pessoas já não optam tanto pelo clássico e, preferem por exemplo as gangas.
O mesmo disse Carlos Godinho, avançando que há uns anos toda a gente tinha o seu fato.
Este alfaiate considera que a indústria do vestuário está muito desenvolvida podendo ser muito perfeita. Mas, “não é roupa feita à medida”. “Há pessoas que gostam de pequenos pormenores e, só recorrendo a nós conseguem”, adianta, acrescentando que os seus clientes são “exigentes a esse nível”.
Actualmente, um alfaiate é procurado por jovens que pretendam um fato para cerimónias, executivos e, pessoas que normalmente usam fato para trabalhar. “Um fato dura muito tempo”, diz.
Numa outra perspectiva e, na tentativa de encontrar as razões do decréscimo da procura dos alfaiates , Francisco Vidal nota que só depois de confeccionada é que o cliente pode ver o resultado final. “As pessoas estão agora mais habituadas a ir à loja, ver, experimentar e compram se lhes agrada”, afirma, sublinhando que há dez anos atrás nas épocas festivas toda a gente queria roupa nova o que agora não acontece.
Por outro lado, Vidal refere que foi tentando aliar o tradicional ao moderno de modo a facilitar as tarefas.
Godinho lamentou que nunca se tenha criado um estatuto, por exemplo de artesão, para o alfaiate.
A concepção de um fato
Fazer um fato implica uma série de tarefas prévias. Primeiro tiram-se as medidas ao cliente. Depois pegam-se nos moldes e, desenha-se no tecido, seguindo-se o corte das entretelas e dos forros. Há quem coza tudo à mão mas Francisco Vidal diz que cose quase tudo à máquina havendo apenas alguns pormenores que cose à mão. Este hábito foi uma das atitudes que tomou em busca “de um caminho que era a modernidade, de modo a haver mais eficácia”.
A prova do fato vem a seguir e, finalmente os acabamentos. Por isso, fazer um fato poderá levar 20 a 24 horas. “Mas como não é uma coisa standarizada pode demorar mais mas também pode demorar menos tempo”, salvaguarda Vidal, explicando que muitas vezes, um pequeno pormenor pode levar a que se demore muito tempo.
Alfaiate há 34 anos, Francisco Vidal começou a trabalhar no ramo em par-time já que a sua ocupação principal era a indústria têxtil. “Com 15 anos já trabalhava por minha conta”, narra, acrescentando que sempre fez part-times já que trabalhava das 6 às 14 horas.
Inicialmente, começou por fazer apenas calças mas decidiu aprender a fazer casacos. Assim começou a fazer fatos e, faz vestuário quer seja para homem quer seja para senhora.
Por: Alexandra Lopes
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1 comentário:
Nunca, mas mesmo nunca, pensei em ver o meu pai na Net, muito menos imaginei a existência de um blog em honra a esta profissão;
mas com espanto meu e já muito tempo depois desta noticia ter saído no jornal da minha terra, Joane, vejo que tambem foi publicada e com motivo de orgulho a noticia que o meu pai deu a esse jornal.
Sou filho do senhor Vidal e sinto orgulho naquilo que ele faz e faz muito bem, para mim e não como filho, mas sim como cidadao, um grande alfaiate, mas acima de tudo um grande profissional,
O muito obrigado pela supresa não esperada.
Bruno Vidal
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